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Cinéfilos Anónimos: fevereiro 2007

Cinéfilos Anónimos

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Óscares 2007 - Vencedores

Passadas, já, algumas horas da revelação dos vencedores deste ano da 79ª Edição dos Óscares da Academia, é tempo, agora, de balanços – e a verdade, essa, é que não será justo afirmar-se que será um processo cheio de surpresas, como o não foi a cerimónia deste ano propriamente dita. Vejam, aliás, por vós mesmos, seguindo o link do site oficial da Academia, onde poderão ver os vencedores, bem como, igualmente, as entrevistas dos mesmos e, ainda, fotografias de todos quantos marcaram presença no Kodak Theatre na passada noite.

À semelhança da edição anterior, mais uma vez, a Academia acabou por repartir os galardões pelos principais nomeados, sem, portanto, e mais uma vez, comprometer-se em quaisquer manifestos de qualquer ordem – não havendo, igualmente, grandes surpresas perante aquilo que era, já, esperado em relação aos eventos que antecederam os prémios máximos da indústria cinematográfica, exceptuando, porém, alguns apontamentos de justeza algo duvidosa.

Para justificar estas asserções, basta que se proceda às sempre habituais contagens – e respectivo processo de rotulamento dos filmes com base exclusivamente a números de estatuetas, que tem, a maioria das vezes, tanto de injusto como de publicamente integrado -, sendo imediata a assunção de que Martin Scorcese e o seu “The Departed” foram, de facto, os grandes vencedores na amena noite – juntando-se aos Óscares de Melhor Montagem e Melhor Argumento Adaptado a confirmação da entrega do galardão de Melhor Realizador para o primeiro, e a revelação de uma das principais (e únicas) surpresas da noite, motivadas pela entrega de Melhor Filme ao mesmo. Ao contrário de toda a sala, na altura de se anunciar o realizador enquanto vencedor na sua categoria, que protagonizou, assim, a grande comoção e ovação da noite, pessoalmente, confesso, aqui, a minha (renovada) descrença face ao processo de escolha, já que se comprovaram os receios de que se optasse por calar injustiças passadas com estatuetas injustamente entregues – se me permitem o desabafo mais áspero, parece que os lobbys pré-Óscares tornaram a presentear-nos com a sua magia.

Continuando, não obstante, com números: “Pan’s Labyrinth”, do latino Guillermo del Toro, foi o segundo vencedor da noite, arrecadando três Óscares nas categorias técnicas, perdendo, porém e surpreendentemente, no domínio em que a sua vitória era já dado adquirido – tendo a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro voado para a Alemanha, premiando “The Lives of Others”; “DreamGirls” e “Little Miss Sunshine” arrecadaram, ambos, dois galardões – Mistura de Som e Melhor Actriz Secundária, por Jennifer Hudson, no primeiro, e Melhor Argumento e Melhor Actor Secundário, Alan Arkin, para o segundo -, sendo este último reconhecimento, se calhar, o mais surpreendente, já que ditou a derrota de Eddie Murphy, que era tido, já, como a escolha mais óbvia; os outros nomeados para melhor filme, “Babel”, “Letters of Iwo Jima” e “The Queen” arrecadaram, cada um, apenas um galardão, respectivamente de Melhor Banda Sonora – para o repetente, com toda a justiça, Gustavo Santaolalla -, Melhor Edição de Som e Melhor Actriz – com mais uma das confirmações óbvias da noite, com a coroação da rainha Helen Mirren. Aliás, também à semelhança do ocorrido no que concerne às melhores actrizes, também o premiado masculino se pautou pela confirmação – Forest Whitaker era já uma aposta ganha neste domínio, traduzindo o seu favoritismo no esperado galardão.

De destacar, ainda, é a inesperada vitória de "Happy Feet" no domínio do Melhor Filme de Animação, em detrimento de “Cars” dado como o vencedor antecipado; e os sucessos de “An Unconvenient Truth”, de Al Gore, no que concerne à categoria de Melhor Documentário e Melhor Música Original, escrita e interpretada por Melissa Ethridge (que condenou à subordinação as outras quatro músicas a concurso, três das quais pelo filme “Dreamgirls”, e protagonizou um dos discursos mais inspiradores da noite) – sendo que o mediatismo conferido ao Ex- Vice-Presidente dos EUA motivou alguns interessantes momentos na noite de ontem, em que se disfarçaram manifestos políticos em trechos humorísticos.

Comentados os resultados, resta concluir com a exaltação – se me é permitido - de alguns dos aspectos que caracterizaram esta 79ª Edição da cerimónia enquanto espectáculo televisivo e de entretenimento, que me impele a afirmar a senhora que se segue como uma das vencedoras da noite: Ellen Degeneres conseguiu imprimir, nas 4 horas de emissão, um tom leve e descontraído – sem incorrer uma postura demasiado política que condenou o seu antecessor, Jon Stewart, nem recorrer ao calão como via humorística, como Chris Rock - que arrebatou a plateia presente e conquistou outros milhões de espectadores que a viram, em directo, protagonizar belíssimos momentos de televisão – restando, porém, ainda, de descortinar totalmente a opinião pública face à sua prestação, não nos permitindo, portanto, nenhum tipo de antevisão acerca de uma possível recorrência da humorista americana na tarefa de apresentar, novamente, uma futura edição da cerimónia . Perante isto, resta-me apenas apresentar as minhas esperanças de que isto venha acontecer, de facto.

Posto isto, deixo-vos, assim, com uma fotografia de um desses momentos, bem como com o convite a expressarem, connosco, as vossas impressões sobre a noite dos Óscares.


sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Antevisão - 79ª Edição dos Óscares - Parte III

(...)

Melhor Argumento Adaptado

Nossa Escolha: "The Departed"

Escolha Mais Provável: "The Departed"

Embora a expectativa, nesta categoria, esteja voltada para a nomeação do filme de Borat – o da sempre cansativa menção Borat Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan” -, não é crível, porém, um possível sucesso deste filme nesta categoria. Desta forma - e contrariamente ao que se deverá passar no que concerne ao Melhor Argumento Original -, “The Departed” é tido quase como assegurado vencedor nesta categoria.


Melhor Argumento Original

Nossa Escolha: "Letters of Iwo Jima"

Escolha Provável: "Babel"

Não são raras as vezes em que as categorias referentes ao Melhor Argumento – quer original quer adaptado – se imiscuem dos mesmos factores válidos para a análise da categoria Melhor Filme, mas não, porém, da mesma polémica e relevância dos média – por essa mesma razão, porque também não é invulgar que esta seja utilizada como um modo de equilibrar as contagens e premiar filmes menos unânimes mas de igualmente notória qualidade, pensamos que a vitória nesta categoria deverá depender, em muito, dos resultados finais da segunda citada. Com efeito, é incontestável a fortíssima concorrência imposta pela presença de “Letters of Iwo Jima”, “Babel”, “The Queen” e “Little Miss Sunshine”, em detrimento do menos brilhante “El Labeirinto del Fauno” – afirmando, assim, uma maior probabilidade de vitória de “Babel” e “Little Miss Sunshine”, como aliás, o confirmam as votações dos cibernautas em que são estes os dois títulos que parecem reunir maior unanimidade.


Melhor Realizador

Nossa Escolha: Clint Eastwood (“Letters of Iwo Jima”)

Escolha mais Provável: Martin Scorcese (“The Departed”)

Não obstante da reconhecida qualidade de qualquer uma das obras a concorrer nesta mesma categoria – particularmente no que concerne a “Babel”, que, provavelmente, a nosso ver e numa perspectiva de antevisão algo divinatória, será aquele a quem a imprensa não se coibirá de apelidar, imediatamente, de “Perdedor da Noite”, a adivinhar pelas possibilidades das suas nomeações se converterem em prémios factuais -, a grande disputa, essa, parece ter apenas dois rostos em confronto: os consagrados e tão diferentes Clint Eastwood e Martin Scorcese. Com efeito, ambos parecem ter inúmeras variantes e de variadas origens que parecem jogar a seu favor: se, por um lado, Clint Eastwood teve um ano em grande - com duas obras que, além da sua inegável qualidade, abarcam a originalidade da exposição de dois pontos de vista, explorando eximiamente a fragmentação de um acontecimento uno numa perspectiva de encerrar, numa mão, universalidade e versatilidade, e, noutra mão, a intersecção dessas mesmas visões de modo a provocar o debate de ideias e o deslumbramento visual -, por outro lado, a pressão crescente que tem vindo a ser exercida para a consumação do mérito, e consequente tradução do mesmo num galardão, de Martin Scorcese – que se estende desde o público em geral a conhecidas e influentes figuras da indústria, entre as quais Leonardo DiCaprio e o próprio Clint Eastwood -, parece revestir-se de igual relevância para esta avaliação – ou não estivesse, já, confirmado o facto de que a Academia parece não se coadunar com a responsabilidade e determinação nas decisões social e publicamente mais mediáticas, surgindo uma possível e final coroação do segundo um escape fácil a toda a polémica que se tem vindo a gerar nos últimos anos, calando as vozes descrentes e os lobbys, reconquistando os saudosistas e domando os fundamentalistas.

Porém, outros factores podem vir a tomar especial relevo, referentes, essencialmente, ao facto de que há coisas que dificilmente mudarão: se é um facto que Martin Scorcese é o símbolo máximo dos “ódios de estimação” da Academia – pelo não reconhecimento de obras passadas que, mesmo sendo claramente superiores a este “The Departed”, serão, muito provavelmente, subjugados por este com uma muito possível entrega deste galardão ao mesmo -, também o será que Clint Eastwood é, actualmente, uma das chamadas “vacas sagradas” da mesma – embora esta subordinação ao valor deste seja algo de muito merecido pelo seu talento que parece sublimar-se com o tempo, numa reminiscência das suas obras mais próximas como “Million Dollar Baby” ou “Mystic River”.

Mais uma vez – e passo a expressão -: a ver vamos.

Melhor Filme do Ano:

Nossa Escolha: "Letters of Iwo Jima", de Clint Eastwood

Escolha mais provável: "Letters of Iwo Jima", de Clint Eastwood

É, se calhar, a categoria em que as certezas são menores, a concorrência mais forte e as variáveis mais infindas, já que cada um dos títulos nomeados têm – além de inegável qualidade – inúmeros factores que lhes são favoráveis, sendo o contrário também, em alguns casos, verdadeiro.

Com efeito, começamos por excluir as obras cujas possibilidades de vitória nos parecem menores – embora ainda significativas -, como The Queen e The Departed – por se tratarem, respectivamente, do filme com menos relevância daqueles que se propõe à análise de factos históricos e/ou problemas sociais prementes e baseados nas vicissitudes da actualidade e da obra que menos carácter educacional parece propor. Além disso, o segundo citado – apesar da pressão pública e dos lobbys que se criaram, entretanto, em sua defesa, reunindo, actualmente, uma maior unanimidade mediática no que concerne à vitória – não nos parece abarcar mais do que o puro entretenimento de um filme maioritariamente de acção – e, a ser consumada a exaltação do realizador e outros possíveis sucessos em categorias técnicas, pelo aspecto formal do filme, nada mais nos parece merecer ser coroado para além dos mesmos. Little Miss Sunshine é outro caso de sucesso das massas e de um filme muito bem conseguido, mas cuja nomeação nos apresenta como uma menção honrosa e não como uma das mais exequíveis probabilidades – com um elenco muito forte, bem conhecido do grande público, um tom leve, mas profundo, sendo que um possível sucesso nesta categoria apresentar-se-ia, não como a mais ínfima ofensa, mas como uma algo inusitada surpresa.

Sobram-nos, assim, “Babel” e “Cartas of Iwo Jima”, ambos consagrados nos Globos de Ouro, respectivamente, para Melhor Filme na categoria de Drama e Melhor Filme Estrangeiro (por ser falado, quase inteiramente, num dialecto que não o inglês) – a escolha do segundo enquanto mais provável que o primeiro, prende-se, assim, com dois factores que têm pouco que ver com a qualidade de qualquer uma das obras: a vitória, na edição anterior, de um filme com estrutura semelhante (em teoria) a “Babel”, “Crash”, em que o tema proposto se intersecta, igualmente, em alguns pontos, nomeadamente na divergência dos modos de percepcionar o mundo, motivados pelas diferenças culturais – com a diferença de que segunda obra citada abrange uma análise das relações inter-raciais na América e a primeira uma confrontação entre o Ocidente e o Oriente; uma possível escolha de Martin Scorcese para melhor realizador, em detrimento de Clint Eastwood, surgindo uma possível vitória de “Letters of Iwo Jima” como um esforço pelo equilíbrio e um contra-balançar dos reforços positivos – já que, como referido, este realizador é, quase sempre, tido em muito boa conta pelos votantes da Academia.

De reiterar, porém, o carácter de incertezas de que se reveste esta análise, motivada, não só pela apertada competição imposta pela qualidade incontestável dos filmes a concurso, mas pela presença de muitos factores que podem influenciar a decisão – que, aliás, acabam, muitas vezes, por ser os protagonistas da noite dos Óscares, e não propriamente os filmes que a promovem.

Antevisão - 79ª Edição dos Óscares - Parte II

(...)

Melhor Actriz

Nossa Escolha: Penélope Cruz (“Volver”)

Escolha Mais Provável: Helen Mirren (“The Queen”)

Reiteramos, mais uma vez, aquilo que afirmamos na primeira avaliação às nomeações, que publicamos anteriormente – contrariamente ao que seria, teoricamente, de prever, perante a presença de nomes tão fortes de consagradas actrizes (ou a consagrar, invariavelmente, num futuro próximo) concorrendo para uma mesma categoria, a expectativa de que esta escolha se reveste é pouca ou nenhuma, já que dificilmente Helen Mirren verá fugir-lhe a estatueta na derradeira cerimónia. Um pouco à semelhança do que acontece com a categoria equivalente no masculino – embora com, como já dito e redito, actrizes de mais reconhecido talento -, a escolha da actriz britânica enquanto vencedora é unânime e (quase) imperturbável – resta-nos esperar por dia 25 para saber se será possível que este “quase” possa ser enaltecido na anterior frase, proferindo-se em espanhol a expressão “maior surpresa da noite” referindo-se à estreante Penélope Cruz. Nós, deste lado da fronteira, ficamos a ver com os dedos cruzados.

Melhor Actriz Secundária:

Nossa Escolha: Abigail Breslin (“Little Miss Sunshine”)

Escolha Mais Provável: Jennifer Hudson (“Dreamgirls”)

Não obstante das excelentes prestações de Adriana Barraza e, especialmente, Rinko Kikuchi – ambas por “Babel” – e do peso intrínseco e inerente ao nome Cate Blanchet – por “Notes on a Scandal”, cuja estreia em terras lusas só se dará para a semana -, a probabilidade de qualquer destas actrizes arrecadar o Óscar avizinha-se ínfima, devido à concorrência imposta pelos nomes de duas jovens e absolutas estreantes: a pequena grande actriz Abigail Breslin, de apenas 10 anos, por “Little Miss Sunshine” e Jennifer Hudson por “Dreamgirls”. Também à semelhança da mesma categoria, mas no equivalente masculino, as apostas apresentam-se bastante divididas, parecendo, porém, ser mais favoráveis à segunda – sendo que, também similarmente ao comentado no que concerne à escolha de Eddie Murphy na referida categoria, também Jennifer Hudson foi premiada na Gala dos Globos de Ouro e as razões pelas quais a circunstância se deve repetir nos Óscares intersectam-se com as já explicitadas no que se refere ao mencionado actor, relativamente à ausência de nomeações do filme “Dreamgirls” nas categorias principais.

Melhor Filme de Animação

Escolha Mais provável: “Cars”, Disney Pixar

Não tendo visionado qualquer um dos três – daí a ausência de quaisquer preferências -, esta parece ser mais uma das categorias em que a espera pelo anúncio do vencedor é apenas protocolar – à semelhança do que aconteceu nos Globos de Ouro, “Cars” não deve deixar escapar o Óscar de Melhor Filme de Animação, principalmente tendo em conta o parco peso dos seus adversários, quer de qualidade reconhecida quer de valor comercial, no que concerne, respectivamente, a “Happy Feet” e “Monster House”.

Melhor Banda Sonora Original

Nossa Escolha: “Babel”, Gustavo Santaolalla

Escolha Provável: “The Queen”, Alexandre Desplat

A discrepância entre a nossa escolha e a escolha provável tem apenas uma motivação, que não deveria, de todo, num plano teórico, ser sequer considerada: o facto de que nos parece improvável que Gustavo Santaolalla possa ganhar este galardão por dois anos seguidos, já que foi este o autor da Banda Sonora Original de “Brokeback Mountain”, premiado, nesta categoria, no ano passado. Perante isto, Alexandre Desplat parece-nos um dos nomes mais sonantes, dos nomeados, e o mais provável a ser premiado dia 25 de Fevereiro.

Melhor Música

Nossa Escolha: "I Need to Wake Up", por Melissa Ethridge, para “An Unconvenient Truth


Começamos por explicar indeterminação no que concerne à “Escolha mais provável”, que se prende com as memórias de um passado demasiado próximo demarcado por um ferida ainda um pouco aberta – a vitória de “It’s hard out there for a Pimp”, dos Three Six Máfia, surpreendente e incompreensível. Deste modo, e perante a audição de todas as músicas a concurso, nesta edição, as nossas preferências recaem sobre a música I Need to Wake Up, de Melissa Ethridge, em detrimento de “Our Town”, do filme de animação “Cars”, e três faixas do musical “Dreamgirls” – “Listen”, “Love you I Do” e “Patience”, sendo as duas primeiras interpretadas, respectivamente, por Beyoncé Knowles e Jennifer Hudson. Ressalva-se, porém, um facto que pode ter, ou não, algum grau de relevância na escolha desta categoria: a presença de duas músicas das duas obras que devem ter a sua vitória assegurada nas respectivas categorias – “An Unconvenient Truth”, no domínio dos documentários, e “Cars” na animação -, e a nomeação de três faixas, de um mesmo filme, numa mesma categoria – que pode, por um lado, aumentar a probabilidade da entrega galardão a “Dreamgirls”, embora exista, igualmente, a possibilidade de inversão desta tendência, precisamente pela dificuldade inerente à exaltação de uma canção em detrimento das outras. Porém, acabando esta análise como a começamos: com exemplos próximos tão representativos do carácter (quase) aleatório de que algumas escolhas da academia parecem revestir-se, então torna-se impossível ter certezas em noites tão voláteis.


(... continua)

Antevisão - 79º Edição Óscares - Parte I

A dois dias da mais importante cerimónia no que à indústria cinematográfica concerne, apresentamo-vos – aqui e como previamente prometido – as nossas antevisões e preferências relativamente aos possíveis, prováveis ou desejáveis vencedores da 79ª Edição dos Óscares da Academia – a realizar, como já é bem sabido, no dia 25 de Fevereiro, com transmissão portuguesa na TVI, na madrugada de domingo para segunda-feira, em directo do Kodak Theatre onde Ellen DeGeneris nos guiará pelas intensas horas que delimitam o tempo do evento. Nunca será de mais enfatizar, porém, que as observações que proferiremos nesta “antevisão” são pessoais e, portanto, de carácter muito subjectivo, convidando-vos, desde já, a juntarem-se a nós na pré-discussão e nas apostas, seja com o intuito de manifestar concordância, discordância ou avaliações alternativas.

Posto isto, avançamos para esta “mini-antevisão”, no que concerne, pelo menos, às categorias de maior relevância, iniciando por relembrar o link onde estão anunciados os nomeados, bem como o endereço das sempre interessantes polls que descortinam, até agora, as preferências dos cibernautas.

Óscar de Melhor Actor

Nossa Escolha: Leonardo DiCaprio (“Blood Diamond”)

Escolha mais Provável: Forest Whitaker (“The Last King of Scotland”)

Começamos por confessar, nesta categoria, o nosso desconhecimento face à grande maioria dos seus nomeados, tendo a nossa escolha recaído, invariavelmente, pelo único actor cuja performance podemos, com conhecimento de causa, comentar e/ou defender – Leonardo DiCaprio, no seu papel do contrabandista Danny Archer no “Diamante de Sangue” de Edward Zwick, embora todos esperássemos ver o mesmo actor nomeado, não por esta obra, mas pela de Martin Scorcese, “The Departed”. Com as razões que levaram os críticos da Academia a realizar esta escolha entre as duas performances distintas de um mesmo actor ainda por descortinar, a mesma parece revestir-se de pouca relevância aquando da avaliação da (incipiente) probabilidade de DiCaprio experimentar os ares de segunda-feira com a prateleira preenchida por mais um galardão – ao contrário do que defendemos numa primeira avaliação às nomeações , publicada neste blogue aquando das mesmas, nada parece separar Forest Whitaker e o seu Idi Amin da estatueta, sendo que o seu favoritismo tem vindo a tornar-se cada vez mais inegável, como o confirmam as referidas votações dos cibernautas (cerca de 50%) e os seus sucessos em todos os demais eventos cinematográficos deste início de ano. Com efeito, embora as decisões polémicas sejam palavras de ordem na Academia, apresenta-se como bastante improvável que prevaleçam em detrimento da unanimidade que a performance de Whitaker parece abarcar – isto, para mal de Leonardo DiCaprio e o seu ano de ouro e Peter O’Toole e a sua longa lista de esperanças de juntar o Óscar de Melhor Actor à sua colecção da galardões, somando já a 7 nomeações sem que seja bafejado por tal sorte.

Óscar de Melhor Actor Secundário

Nossa Escolha: Alan Arkin (“Little Miss Sunshine”)

Escolha mais Provável: Eddie Murphy (“Dreamgirls”)

Esta é, com efeito, uma das categorias em que a competição parece ser mais renhida, como, aliás, o confirmam as expressões de preferência dos cibernautas – a probabilidade parece, assim, estar bem distribuída entre três grandes nomes: Mark Wahlberg, por “The Departed”; Eddie Murphy por “Dreamgirls” e Alan Arkin, por “Little Miss Sunshine”. Achamos, porém, que, à semelhança do que já ocorreu nos Globos de Ouro, Eddie Murphy deverá ser o escolhido neste domingo, sendo esta crença motivada por causas repartidas pelo mérito da sua performance no referido filme, quer pelo bem das chamadas “jogadas de bastidores” de que a Academia parece, muitas vezes, alimentar-se; assim, este galardão - a ser atribuído como é nossa crença – surgiria, por um lado, como uma forma de premiar a prestação de um actor cuja carreira se tem baseado nas comédias mais mainstream de que esta empresa se orgulha de publicitar, exaltando a mudança de registo do mesmo pela demonstração da sua (pretensa?) versatilidade; apresentando-se, por outro lado, como um meio de enfatizar, homogeneizar ou – mais sinceramente – disfarçar a não assunção de uma lacuna de que todos parecem partilhar relativamente à ausência de “Dreamgirls” no que às categorias principais concerne.



(... continua)

domingo, fevereiro 18, 2007

Entre Inimigos - Artigo de Opinião

“Entre inimigos” (2006), realizado por Martin Scorsese (candidato ao Oscar de melhor realizador por este trabalho), introduz o espectador aos meandros dos contextos policiais e às estratégias aí utilizadas para “servir a comunidade”, protegendo-a da acção de grupos mafiosos. Somos confrontados com a subjectividade dos valores pessoais e sociais – como a honestidade, o profissionalismo, o sucesso, o prestígio ou até o estatuto pessoal – pelo contacto com a dinâmica da investigação policial e implicações desta, quando o “braço direito” do cabecilha Frank Costello (Jack Nicholson) Collin Sulivan (Matt Damon) é promovido a cadete responsável pela identificação deste, ao mesmo tempo que o esforçado recém-policia Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) é despojado de bens e de identidade pessoais para se infiltrar no grupo mafioso como informador da polícia (com o conhecimento de apenas alguns dos seus elementos).

Como facilmente nos apercebemos, o filme conta com um elenco de reconhecida qualidade e propõe a análise de temáticas complexas de conteúdo intrincado. Todavia, na minha opinião, é mau sinal quando sou capaz de analisar, sem esforço, um filme de forma fragmentada, conseguindo identificar as características da forma e do conteúdo diferencialmente. Gosto de sentir a dificuldade de fazê-lo por significar que é exímio na integração entre ambos. Com efeito, se é verdade que o conteúdo é prometedor, critico e reflexivo, já a forma – desejando que fique claro que não me refiro às metodologias cinematográficas, cuja qualidade não me sinto capaz de avaliar tecnicamente – deixa a desejar, sobrevalorizando, na figura do policia, a arma em detrimento das suas características personológicas, sociais e humanas. Com isto quero gostaria de transmitir que, uma história que poderia ser mote para a descontrução de representações e de certezas e/ou para a tomada de consciências de questões éticas de extrema complexidade, se oferece levianamente à sua redução, por parte do espectador, a um “filme [se possível, grandemente violento] de policias e ladrões”.

Reiterando-se que se trata de uma opinião pessoal, parece mostrar-se claro o meu posicionamento face à película, pelo que é com alguma injustiça que entendo o facto de ser (quase) unânime e consensual a possibilidade de que Scorsese saia finalmente premiado pela academia pela realização de “Entre inimigos”. Tal como defendido por alguns, embora se possa compreender a injúria que pode representar o não reconhecimento de toda a obra do realizador com o desejado galardão, não parece, contudo, apresentar-se como, no mínimo, correcto que o seja para “calar” injustiças passadas.


sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Babel - Artigo de Opinião

“Babel” é uma das obras candidatas ao Óscar de Melhor Filme nesta nova edição do evento que se aproxima de forma célere. A sua qualidade tem vindo a ser aclamada, quer por críticos da especialidade quer por leigos, ao mesmo tempo que tem sido elogiado o facto de ter sido rodado em três países e de ser falado em 5 línguas – entendendo-se a linguagem não só no que concerne às suas singularidade e especificidade ao nível da identidade nacional linguística, como, igualmente, numa dimensão mais universal e simbólica do termo –, contando com a realização de Alejandro González Iñárritu.

O filme propõe o desenvolvimento interrelacionado de múltiplas histórias, prometendo, tão somente, uma descrição dos costumes quotidianos de diferentes povos, que sugere (sub-reptícia mas evidentemente) uma reflexão profunda e sob variadas perspectivas acerca da comunicação no sentido mais amplo que esta conseguir abarcar, sendo que parece ser através da subentendida diversidade que somos convidados a reflectir em torno de questões de natureza universal.

Com efeito, confessando a acentuada ambivalência (por achar impossível prometer certezas) com a qual me comprometi a pensar e a sistematizar a minha análise da película, penso que nos é oferecida a possibilidade de (quase sempre comparativamente) reflectir acerca de questões 1) pessoais – culpa, competência, afecto, perda, fim –, 2) familiares – conjugalidade, maternidade/paternidade –, 3) sociais – emigração, interculturalidade, preconceitos, oportunidades – e, de forma transversal e coextensiva, 4) universais – abordando-se valores como a justiça ou a equidade que, indescritível, dura e friamente, alguns estão condenados a viver desconhecendo o significado. Efectivamente, naquela que apenas pretende ser uma enumeração de índole meramente pessoal, propõe-se a apresentação de questões exemplificativas das temáticas que a película convida a dissecar, nomeadamente: é-nos proposto que discirnamos em torno da extrema discrepância entre a vivência no Ocidente e no Oriente, não só no que respeita à carência deste último a um nível básico de instrumentalidade, como relativamente à ostentação de superioridade dos que naturalmente desfrutam da comodidade da primeira. Mais ainda, tendo em conta a intencionalidade subjacente à selecção e ao encadeamento dos factos, não deixa de ser curiosa a forma como a referida (e inquestionável?) evidência de progresso dos “ocidentais” se mostra oca e desamparada perante a desvalorização de dimensões humanas e altruístas dos mesmos em situação de dificuldade e descontrolo. Agiganta-se a discrepância sinalizada quando – e se - atentarmos na abertura e flexibilidade oferecida pelo “rotulado inimigo” no debate reflexivo e questionante acerca de hábitos e crenças – constituindo as diferentes concepções acerca do matrimónio e do relacionamento interpessoal um dos motes para debate – e dos valores da solidariedade e de entreajuda. Neste sentido, o filme parece ter o poder de nos apresentar a realidades que pensamos características de um passado longínquo, por um lado, e que dificilmente tomaríamos consciência, por outro, fazendo prova dos significados cultural e diferentemente atribuídos à vida – a título de exemplo: os filhos americanos cujo direito à segurança e protecção é inquestionável vs os filhos árabes incumbidos de proteger o ganha-pão da família acarretando armas e sujeitando-se às mais variadas dificuldades.). Paralelamente, são colocados em conflito as dimensões da legalidade e da relação, quando nos debatemos com a ameaça de penalizar a ingenuidade de um emigrante ilegal, igual em tudo aos outros (sejam eles quem forem) em necessidades, ambições e afectos. Acresce às temáticas apresentadas a abordagem do acto de comunicação, como anteriormente mencionado: não só no que respeita ao domínio de diferentes linguagens – dificultando e, por vezes, impossibilitando a transmissão das mensagens –, como abordando de forma audaz e sensível o universo daqueles que vivem incapacitados de se expressarem através da oralidade – não que isso seja impeditivo da comunicação aos seus olhos, mas no sentido em que, aos olhos dos "feliz-e-normalmente-dotados-da-capacidade-de-falar”, são diferentes e por isso “menores”. Desta forma, somos convidados a analisar atentamente e a reinventar a nossa interpretação do mundo e do que nos une enquanto meros e iguais habitantes deste, através de um ponto de partida que nos questiona brilhantemente, sem nunca cair na tentação populista da parcialidade e da divisão estagnada entre vítimas e vilões.

Não sou, propriamente, aquilo a que se pode chamar uma adepta dos filmes que apostam no paralelismo como abordagem e no desenvolvimento simultâneo de acontecimentos em diferentes contextos e /ou tempos, temendo (e, quase sempre, na minha opinião, confirmando) que nenhuma das acções seja explorada de forma conclusiva. No que a “Babel” diz respeito, sou obrigada a render-me às evidências uma vez que, mais do que conclusivo, este pretende constituir um estímulo no sentido de abalar e despertar consciências “civil” e confortavelmente acomodadas.

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