!-- Begin #sidebar -->
Cinéfilos Anónimos: setembro 2007

Cinéfilos Anónimos

terça-feira, setembro 25, 2007

A Boa Educação

A abertura do ano lectivo por todo o País fornece-nos o enquadramento apropriado à selecção de algumas películas importantes centradas nessa crucial fase da existência humana civilizada: os anos escolares. A descoberta, a socialização, o amadurecimento, o sofrimento, a superação pessoal e outros temas sobreponíveis constituem a essência dos filmes que passo a apresentar. Obviamente apenas exemplos avulsos de entre uma miríade de escolhas possíveis.


OS CORISTAS – “Les Choristes” (2004) de Christophe Barratier

Um dos recentes sucessos do cinema francês, “Os Coristas” retoma a clássica fórmula do Professor recém-chegado que, contra todas as adversidades e contra-tempos, inspira e faz desabrochar o potencial dos seus Alunos (de resto, patente noutros filmes desta lista). Neste caso, trata-se do prazenteiro Clement Mathieu (Gerard Jugnot) que chega em 1949 ao miserável internato de Fond de l'Etang (fundo do lago) para descobrir e arrebatar os dotes vocais de alguns dos seus jovens alunos. A história segue relativamente previsível, no entanto contemplando habilidade narrativa e atmosfera humanista suficientes para empenhar a sua audiência. E a banda sonora assinada pelos Les Petits Chanteurs de Saint-Marc eleva toda a obra a um nível superior.


SER E TER – “Être et avoir” (2002) de Nicolas Philibert

Extraordinário documentário de orçamento reduzido e outro sucesso recente do cinema francês, “Ser e Ter” encontra a câmara do conceituado Nicolas Philibert a seguir um ano da existência num jardim-de-infância de meio rural. Mais propriamente, da vida do Professor M. Georges Lopes, perto da reforma mas completamente devotado às vidas e aprendizagens dos seus muito jovens alunos (entre os 4 e os 10 anos). O cineasta não procura nem interfere, não condescende nem explora, mas (parece que espontaneamente) capta os mais simples e maravilhosos episódios de humanidade que se possam imaginar. Apelando ao lado maternal de todos nós.


O CLUBE DOS POETAS MORTOS – “Dead Poets Society” (1989) de Peter Weir

Um daqueles exemplares do cinema moderno que se encontra certamente na lista dos favoritos pessoais de muita gente. No final da década de 1980, Peter Weir alinhou um Robin Williams em estado de graça a um punhado de jovens promessas (destacando-se Ethan Hawke e Robert Sean Leonard) afim de cultivar esta espécie de grito de revolta contemporâneo – 80s teen angst – em contexto anacrónico: um colégio americano elitista no final dos anos 1950. Williams entrega uma performance memorável como o pouco convencional Professor John Keating, que procura inspirar os seus alunos adolescentes a ultrapassarem o sufoco social envolvente e a batalharem pelos seus sonhos e ideais. “Carpe diem” “Oh, Captain, my Captain”, em destaque entre outras deixas memoráveis, fazem deste filme um candidato sério a clássico dos nossos tempos. Até lá, é o testemunho de umas quantas gerações que continuam a perguntar porque é que nunca encontraram um John Keating nas suas aulas.


MENTES PERIGOSAS – “Dangerous Minds” (1995) de John N. Smith

A par de “O Clube dos Poetas Mortos”, este será dos mais famosos filmes a aplicar a clássica fórmula já ditada do Professor inspirador versus um contexto adverso. Estreado em meados da década de 1990, sem nunca ter merecido grandes aplausos críticos, cavou um nicho bastante significativo no imaginário cinematográfico popular, vigorando como uma das referências mais importante deste sub-género. Michelle Pfeiifer encarna LouAnne Johnson, ex-fuzileira com um passado turbulento contratada para dar aulas a uma turma problemática numa escola dos bairros sociais. Através de métodos pouco convencionais, como viagens gratuitas ao parque de diversões ou um concurso de poesia centrado em "Mr. Tambourine Man" de Bob Dylan, consegue conquistar a contra-gosto os corações e mentes dos seus jovens estudantes. Não primando propriamente pela novidade, “Mentes Perigosas” vale sobretudo pela presença carismática de Pfeiifer, mas também por uma noção apurada sobre as regras do género (sem as mecanizar em demasia); e, embrulhado, num pacote hip hop, surge como um produto directo da época em que foi realizado.


BREAKFAST CLUB - “Breakfast Club” (1985) de John Hughes

Este é um dos meus favoritos pessoais e, embora não faça qualquer referência a Professores, é um magnífico retrato sobre o crescimento juvenil por entre os corredores da escola. É também o exemplo maior das famosas películas teen angst realizadas por John Hughes durante os anos 1980 - histórias agridoces e descomplexadas de adolescentes em ruptura com o mundo. Em “Breakfast Club”, cinco jovens devem passar um Sábado em detenção na biblioteca da Escola, por terem violado qualquer tipo de regras. Cada um “pertence” a determinado estereótipo juvenil e é interpretado por alguns dos mais notáveis brat packers : a “rainha de beleza” (Molly Ringwald), o “atleta” (Emílio Estevez), o “rufia” (Judd Nelson), a “neurótica” (Ally Sheedy) e o “marrão” (Anthony Michael Hall). Embora de início não se conheçam muito bem e até exista alguma animosidade mútua, pelo decorrer da película vão se gradualmente encontrando e descobrindo as suas próprias semelhanças e idiossincrasias. Como se percebe, o mote é bastante simples, mas é desenvolvido ao máximo do seu potencial numa história harmoniosa servida por excelentes diálogos e personagens cativantes. No final é daqueles filmes com sinceridade e alma, captando a urgência existencial da adolescência, com suas contradições e dissabores, ao mesmo tempo que imprime um forte apelo à comunhão e amizade, sem cair no paternalismo balofo ou ingénuo. Indispensável.