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Cinéfilos Anónimos: abril 2006

Cinéfilos Anónimos

quarta-feira, abril 12, 2006

Estreias - 13/04

O Infiltrado
"It looked like the perfect bank robbery. But you can't judge a crime by its cover
Título Original: The Inside Man
Ano: 2006
Género: Crime Drama
Realizador: Spike Lee
Elenco: Denzel Washington; Clive Owen; Jodie Foster; Christopher Plummer; Willem Dafoe; Chiwetel Ejiofor
Site oficial: http://theinsideman.net/
Duração: 129 min.

Sinopse:
Com um elenco de luxo, The Inside Man é um thriller empolgante, de acção criminal, cuja história se assenta e se desenrola a partir daquele que havia sido planeado para ser o assalto perfeito a um Banco de Nova Iorque que se prova ser caracterizado por pormenores falíveis, numa história de aparências e ilusões, que resultam numa situação de detenção de reféns.


Golpe a Frio
Thick Thieves. Thin Ice”

Título Original: The Ice Harvest
Ano: 2006
Género: Comédia
Realizador: Harold Ramis
Elenco: John Cusack; Billy Bob Thornton; Connie Nielsen; Oliver Platt; Randy Quaid; T.J. Jagodowski
Duração: 88 min

Sinopse:
Tomando como palco a gelada Wichita, no Kansas, The Ice Harvest narra a história dos negócios obscuros levados a cabo pelos dois sócios: Vic Cavanaugh (Billy Bob Thornton), dono de um clube de StripTease e Charlie (John Cusack), o advogado. Com efeito, quando, na véspera de Natal, tudo parecia correr às mil maravilhas para Charlie, tendo sido bem sucedido num dos seus negócios ilícitos a par de Vic – embolsando a quantia de 2,15 Milhões de Dólares -, tudo começa a revelar-se longe do planeado, numa comédia de enganos e desenganos.


Hostel
Título Original: Hostel
Ano: 2006
Género: Terror
Realizador: Eli RothElenco: Jay Hernandez; Derek Richardson; Eythor Gudjonsson
Site oficial http://www.hostelfilm.com/
Duração: 95 min.

Sinopse:
Produzido pelo famigerado Quentin Tarantino, conhecido pela sua facilidade de consumar cinema de horror e suspense, Hostel narra a história de dois universitários Americanos – Paxton e Josh -, que, a meio de uma viagem pela Europa, se vêm levados a entrar numa estalagem fora dos percursos turísticos, supostamente repleta de maravilhas e, particularmente, mulheres espantosas. A promessa confirma-se, embora os dois amigos comecem a suspeitar de toda a facilidade que se lhes apresenta… As suspeitas justificam-se à medida que acontecimentos sinistros se sucedem, neste thriller psicológico assente em premissas masoquistas.


Date Movie
Everyone wants a happy ending

Título Original:Date Movie
Ano: 2006
Género: Comédia
Realizador: Jason Friedberg/ Aaron Seltzer
Elenco: Alyson Hannigan; Adam Campbell; Sophie Monk
Site oficial: http://www.datemoviethemovie.com/
Duração: 83 min.

Sinopse:
Se dissermos que “Date Movie” partilha os mesmos responsáveis pelo argumento que os da saga Scary Movie, e aliando a designação do título, este filme deixa de requerer demais explicações - trata-se, desta feita, de uma paródia às comédias românticas, protagonizada por uma rapariga de seu nome Julia Jones e o homem dos seus sonhos, cuja relação se encontra ameaçada por uma amiga e os pais de ambos.


Selvagem
Hitting the streets 2006

Título Original: The Wild
Ano: 2006
Género: Animação Aventura Comédia
Realizador: Steve Spaz Williams
Elenco: Kiefer Sutherland; Greg Cipes; James Belushi; Jason Connery; William Shatner
Site official: disney.go.com/disneypictures/thewild
Duração: 94 min.

Sinopse:
Directamente dos estúdios da Disney, “Selvagem” narra uma história de união e amizade, protagonizado por um grupo de animais constituído por um leão, uma girafa, anaconda, um coala e um esquilo, residentes num zoo de Nova Iorque. O rumo da história é marcado por um acidente que dita o envio de um leão adolescente, do citado zoo para a Selva, África - e assenta na missão de salvamento do mesmo, pelo grupo de amigos.

Brokeback Mountain - Artigo Crítico

BROKEBACK MOUNTAIN

Ano: 2005
País: EUA
Género: Romance Drama
Realizador: Ang Lee
Cast: Heath Ledger, Jake Gyllenhall, Michelle Wiliams, Anne Hathaway
Site Oficial: http://www.brokebackmountain.com/





Rejeitado em Cannes, reconhecido em Veneza, silenciado no Kodak Theatre, Brokeback Mountain incomodou, encantou, agitou a opinião pública e as agendas políticas. Incomodou pela temática – ou não tivesse sido, desde logo, rotulado como “western gay”, num tempo em que a urgência e mediatização da homossexualidade na América ainda faz tremer os conservadores negadores exímios do progresso – e pelo despretensiosismo e naturalidade com que foi exposta; encantou pela universalidade e beleza; agitou pela diversidade de reacções que desencadeia, pela importância social que abarca.
Tudo isto consuma a obra de Ang Lee (que é adaptação de um conto homónimo da autoria de Annie Proulx), e é toda esta dicotomia que faz Brokeback Mountain brilhar – o realizador supera-a com notável mestria, reduzindo a história ao que esta tem de mais essencial e universal, que é, precisamente, o amor.


Desencadeando reacções tão paradoxais, a sua carreira mediática até a uma aceitação (quase) unânime não poderia revestir-se de outras características.
Rotulado, desde início, com a classificação de “western gay” - rótulo este que tem tanto de injusto como de polémico -, Brokeback Mountain foi rejeitado em Cannes, e o seu percurso mediático não teve propriamente um começo fulgurante: além do referido título não ser propriamente abonatório, e além de estar associado a um tema muito pouco unânime - embora, paradoxalmente, extremamente actual, já que, num país como os EUA, vivia-se (e vive-se, infelizmente) numa permanente negação do problema e de silenciamento do diálogo, pelos ininterruptos esforços conservadores americanos de tornar o clima o menos propício possível para tal -, o facto de se tratar de um western, um género tipicamente americano, também contribuiu e agravou a “necessidade” de etiquetar Brokeback Mountain como um “filme desinteressante”. E, neste campo, se é um facto que este põe o dedo na ferida, procurando “apontar directamente ao centro da América” (citando James Schamus, produtor), também o é que houve quem reagisse de orgulho ferido, alegando que este filme destruiu as brincadeiras e ídolos de infância, referindo até que esta nova concepção poria por terra os símbolos da heterossexualidade irredutível para gerações vindouras.
Se a escolha da identidade geográfica e laboral das personagens de Brokeback Mountain teve algum destes objectivos em mente, teríamos que perguntar a autora do conto original, Annie Proulx - uma escritora de 71 anos, casada e mãe, detentora de uma mentalidade avançada para o seu tempo, apesar de, actualmente, renitente em ver o seu conto adaptado ao cinema, dado o insucesso de uma anterior tentativa relativamente a uma outra sua obra, The Shipping News. Porém, é sabida a principal intenção da autora em associar uma história de amor homossexual ao Oeste Americano, por se tratar de um espaço em que, em tempos idos, primava a solidão, e em que as amizades cúmplices e eternas nasciam e eram partilhadas de forma especial e, de certa forma, privada e secreta – independentes de qualquer preconceito social, longe de olhares acusatórios.
Foi, assim, uma associação aparentemente despretensiosa, embora abarcando algum risco pela abordagem progressista inerente – como nota de trivia, no ano de lançamento do livro, 1997, um rapaz homossexual foi morto em Wyoming, região que serve como palco aos acontecimentos narrados no mesmo. Passados alguns anos da elaboração do livro, quando já seria de esperar um público mais maduro e aberto para aproveitar, entender e descobrir o que a história de amor de Jack Twist e Ennis del Mar tem de melhor e mais nobre, a verdade é que se verifica uma expansão das reacções que se aferiram no passado, sendo que esta adaptação constituiu, novamente e de forma comprovável, um novo e renovado risco – como, aliás, também o foi a utilização de dois actores populares e mainstream do cinema actual para os interpretar, Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, interpretações estas que são um dos pontos mais brilhantes da longa metragem – de que se falará mais tarde.

Voltando ao percurso mediático de Brokeback Mountain - cujo início não foi brilhante, como analisado anteriormente -, a sorte desta obra de Ang Lee começou a mudar meses depois, quando arrebatava o Leão de Ouro do Festival de Veneza – que aliás, constituiu a segunda vez em que um filme ignorado no festival de Cannes conseguia tal proeza, sendo a primeira relativa ao filme Vera Drake, de Mike Leigh. Seguiram-se os Globos de Ouro, em que foi nomeado para Melhor Realizador, Melhor filme na Categoria (Drama), Melhor Música Original, Melhor Argumento, Melhor Banda Sonora, Melhor Actor Principal (Drama), Melhor Actriz Secundária (Drama), tendo ganho os quatro primeiros referidos.
Em paralelo, brilhava noutros festivais de menor dimensão, um pouco por toda a América e na Europa, e com a cerimónia dos Óscares a aproximar-se tornou-se inevitável que Brokeback Mountain estivesse nas bocas do mundo.
As nomeações confirmaram-no, num ano em que a Academia retornou às origens e, à falta dos grandes blockbusters oficiais, num ano unanimemente considerado fraco, estas incidiram principalmente em filmes social e/ou politicamente relevantes, com Brokeback Mountain a ser indicado para oito categorias e rotulado como o “favorito da noite”. Mas se as nomeações tinham sido, já de si, uma surpresa, também o foram os galardões, mas pela conotação oposta – apesar de, aparentemente, Hollywood ter assumido, com tais nomeações, a vertente e a postura educativa que o cinema pode (e deve) proporcionar, a verdade é que essa responsabilidade verificou-se intolerável para os críticos da Academia. Assistimos, com efeito, a um ceder da Academia à força das massas, fugindo a uma tomada de uma posição relativamente aos assuntos que marcam as agendas políticas de todo o mundo – além de Brokeback Mountain, também Transamerica e, em certa medida, Capote teriam como temática directa e indirecta, respectivamente, as questões de Identidade Sexual -, com atribuições cinzentas, demasiado equilibradas sem serem, necessariamente, justas. De oito nomeações, Brokeback Mountain arrecadou apenas três galardões – Melhor Banda Sonora, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Realizador - e voltaram os rótulos depreciativos, tendo sido apelidado como o “perdedor da noite”, sendo que, novamente, não poderia ser mais injusta esta avaliação – não só por se ter dado a circunstância de outros filmes que constituíam poderosos candidatos ficaram sem nenhum galardão, mas também, e principalmente, por todo um percurso de objectivos alcançados por este filme no que concerne à promulgação da discussão e abertura de mentes. E se tiver servido, quanto mais não seja, para tornar público e "palpável" um manifesto anti-homofobia, para chamar o público à discussão de um tema mais actual que, talvez, todos os outros que se apresentavam, então terá, indubitavelmente, valido a pena todos os dissabores.

Posto isto, entre as razões que explicam a ascensão da obra de Ang Lee – além da inegável qualidade, do misto de emoções que se e nos fazem sentir com o coração apertado, da importância social do tema e de todo um conjunto de características que serão explanadas ao longo desta análise -, conta-se também um excelente planeamento de marketing com objectivos muito bem definidos – embora tenha sido imediata e inicialmente rotulado com o tal redutor (portanto) injusto termo de “western gay”, a verdade é que a estratégia oficial nunca se pautou pela concordância, e nunca reduziu o filme à condição de manifestação da homossexualidade sem pudor. Aliás, James Schamus (produtor) chegou a afirmar que, apesar das naturais preocupações relativamente à reacção pública, a verdade é que se é um facto que nunca tiveram como objectivo esconder que o filme tratava de uma relação homossexual – poderia constatar-se nos traillers, e, no filme, verificam-se as demonstrações afectivas próprias de um laço de tal natureza, apresentadas de forma suficientemente comedida e equilibrada, igualmente sem exageros nem limitações - também o é que o significado que é atribuído a essa vertente não constituiria nenhuma espécie de problema se se passasse entre seres de sexos opostos. No idealizado, ter-se-ia, assim, como divisa narrar uma história de amor impossível, acontecendo, neste caso, entre dois homens; reduzindo-a ao seu essencial, apresentando-a, com toda a justiça, como um “romance épico” – como nova nota de trivia, esta estratégia de marketing passou também por uma identificação com o comovente blockbusterTitanic”, nomeadamente a nível dos cartazes publicitários deste, que serviram de inspiração para a elaboração do de Brokeback Mountain.

Com efeito, dada a circunstância do filme ganhar força quando inserido no contexto social e no tempo de lançamento, surge-nos a questão acerca da possibilidade de, como o primeiro, este se tornar num clássico, numa referência, num filme inesquecível a guardar para sempre na nossa memória – e é neste âmbito que interessa a explanação pormenorizada de todas as características de que Brokeback Mountain se faz revestir para superar toda a descrença.

Começando, naturalmente, pela história, Brokeback Mountain narra uma relação de 20 anos entre dois rapazes que, em plena juventude, encontram - sem que com isso saibam lidar ou verbalizar - aquilo que todos levam uma vida inteira à procura que é, tão somente, o amor verdadeiro.
Os acontecimentos deste filme têm início em 1963, em Wyoming, quando Ennis del Mar (interpretado por Heath Ledger) – um jovem comedido e solitário, rancheiro de profissão – e Jack Twist (Jake Gyllenhaal)– um profissional de rodeo com ar jovial e riso fácil -, se candidatam a uma proposta de emprego como vaqueiros na montanha de Brokeback. Sob o lirismo da montanha, a solidão e ausência de tudo, acompanhados apenas pelo gado, por uma fogueira e pelas latas de feijão que constituem o seu único alimento, têm-se apenas um ao outro – e assim nasce a cumplicidade que os une num laço inseparável traduzido, mais tarde, em afectos, numa noite em que o frio se demonstrara insuportável demais para qualquer um deles dispensar a protecção da tenda. Tendo vivido num mundo em que ser homem e ser gay são conceitos quase antagónicos, ambos experimentam receio e confusão com a natureza da ligação que os une – particularmente evidente em Ennis del Mar, cuja negação se converte em auto-repressão -, embora a assumam, subconscientemente, e a expressem, fisicamente, como algo de inevitável. Apaixonam-se, assim, sem saber como, sem saber lidar com o sentimento, expressando-o sem o verbalizar.
Terminado o trabalho na montanha, ambos seguem as suas vidas, casam-se e têm filhos - Ennis consuma matrimonialmente a sua relação antiga com Alma (Michelle Williams), casamento este que resulta em duas filhas; Jack conhece Lureen (Anne Hathaway) e muda-se para Texas, onde casa e tem um filho -, talvez por acharem que viver numa mentira é mais fácil do que lidar com as implicações da verdade.
Mas é esta mesma verdade e as memórias da felicidade vivida em Brokeback que motivam Jack, após quatro anos de ausência, a procurar Ennis, (re)iniciando-se, assim um ciclo de encontros e desencontros, ilusões e desilusões, lições sobre a dor da ausência e a ânsia do encontro – reconstituem a relação de outrora com encontros paralelos às suas vidas conjugais, tendo sempre como o mesmo palco e a mesma testemunha a montanha de Brokeback. Esta surge-nos como um local da consumação da renúncia de um amor que não pode ser vivido sem subterfúgios – um amor como qualquer outro na índole, mas diferente na expressão.
Apresenta-se-nos, assim, como um verdadeiro tiro no coração, um filme lindíssimo e uma verdadeira lição de vida, sem nunca ser esse o seu objectivo; um manifesto social, sem nunca ter a presunção de se afirmar como tal – porque, mais que uma declaração clara e evidente anti-homofobia, denota-se a intenção de narrar, acima de tudo, uma história de amor… fora dos parâmetros e convenções banais, mas igualmente nobre.

Neste campo, são vários os elementos que nos surgem como preponderantes para o atingir da compleição desta obra, para além da já referida narrativa de base da autoria de Annie Proulx– de inegável e reconhecida qualidade.

Com efeito, a referir inicialmente, temos o trabalho do realizador Ang Lee, cuja dedicação, sensibilidade e, acima de tudo, inteligência, permitiu a consumação de um Brokeback Mountain simultânea e paradoxalmente arrebatador e incomodativo, com rasgos de ternura, que constituiu uma confirmação do seu talento e o silenciamento de vozes descrentes – tendo passado, recentemente (2003), por uma tentativa falhada de realizar a adaptação cinematográfica do clássico de Banda-Desenhada “Hulk”, alvo de más e decepcionantes críticas, o realizador tailandês constituiu a segunda escolha para a realização de Brokeback Mountain, sendo que a primeira para realizar este filme incidiu por Gus Van Sant tendo o projecto sido, posteriormente, e por motivos exteriores, passado para as mãos deste. Apesar disso, e apesar da crença de que se tratava de material de manobra demasiado difícil, Ang Lee provou ser uma aposta ganha, tendo realizado o seu melhor filme desde o reconhecido “Sensibilidade e Bom Senso”. A mestria, essa, reside na beleza visual – que não seria possível com uma belíssima colaboração e associação de talentos do realizador e do responsável pela cinematografia (fotografia), Rodrigo Prieto, que o transformam numa verdadeira poesia em movimento – e na profundidade impressa nos planos – evidenciada pela alternância entre uns mais intimistas, ora mais abrangentes - e na linguagem – paradoxalmente muda e de uma eloquência incomodativa.
Neste aspecto se funde e se introduz outro dos motivos da supremacia de Brokeback Mountain, que se relaciona com o trabalho levado a cabo pelos argumentistas Diana Ossana e Larry MacMurty – em vez de reduzir o conto original, o que constitui o processo normal das adaptações cinematográficas, talvez por se tratar de um conto de poucas páginas, houve espaço para a expansão narrativa que em muito abrilhanta e enriquece a longa-metragem, resultando num maior espaço a outras perspectivas – nomeadamente a visão dos acontecimentos pelas personagens femininas –, e numa melhor justificação das reacções e evolução progressiva dos acontecimentos/sentimentos.

Porém, mais do que o excelente trabalho dos produtores/argumentistas/realizador deste filme, o mesmo não resultaria tão bem – arrisco a dizer que não resultaria, de todo -, sem as fantásticas e comoventes interpretações do cast de actores, particularmente os protagonistas. E é esta a fonte da verosimilhança de toda a trama, cujas brilhantes e surpreendentes interpretações nos fazem acreditar, por 134 minutos, no sofrimento da renúncia e repressão das memórias da felicidade vivida e de um amor que não podem viver nos trâmites normais; fazem-nos esquecer os jovens e instáveis Heath Ledger e Jake Gyllenhaall – o primeiro vindo de uma série de participações que constituíram verdadeiros fracassos que estavam, já, a custar-lhe o esquecimento; o segundo tendo já colectado algumas boas performances em filmes anteriores, mas que nunca trabalhando com material tão pesado e maturo -para nos fazerem acreditar que Ennis del Mar e Jack Twist são gente real, de carne e osso, com sentimentos, frustrações, dilemas interiores e tudo o que de bom e de mau figura na condição humana. Não obstante da dificuldade de tornar credível um processo de envelhecimento motivado pelo extenso período temporal em que a história se desenrola, ambos os protagonistas conseguem-no com especial mestria, passando por um processo de evolução e mutação de personalidade que, apesar das modificações no aspecto e da crescente maturidade que se verifica numa postura mais comedida em ambos, expressa até ao fim da fita o mesmo rasgo de revolta e tortura, que se traduz, em Ennis, em resignação e angústia lancinante, em Jack, numa esperança infinda e a dor da (des)ilusão – ambos comovem, por trilhos diferentes, e deixam sempre transparecer e ideia de que as suas almas e personalidades se completam pela diferença, e se unem pela partilha, comunicando, paradoxalmente, eloquentemente mas sem palavras. Este último aspecto é particularmente evidente em Ennis del Mar que, apresentando-nos inicialmente como uma personagem solitária e reservada, vive de pormenores e se denuncia mais no que não diz, do que aquilo que expõe, sofrendo não menos que Jack, mas em silêncio; sugere, assim, permanentemente, a ideia de estar em lágrimas no seu interior, de todo ele sofrer sem o verbalizar – Heath Ledger assume eximiamente o papel, numa interpretação que tem tanto de brilhante como de surpreendente, cuja performance, não fosse a concorrência fortíssima de Philip Seymour Hoffman, em Capote, no mesmo ano, teria certamente sido reconhecida com maior justeza.
Ainda de referir, são as interpretações das actrizes femininas, que primam similarmente pela excelência, em que, particularmente, Michelle Williams (interpretando a esposa de Ennis) surge com uma maturidade que ainda não tinha manifestado em qualquer das suas participações anteriores, evidenciando uma Alma impotente e revoltada com o rumo do seu casamento, também ela confrangida e confusa. Já Anne Hathaway surge menos bem que qualquer um dos anteriormente citados, quer talvez pela escassez de espaço para a sua personagem – Lureen, mulher de Jack -, na narrativa, quer pela ainda presente impossibilidade do público e da própria actriz se libertar das produções “teen” (Diários de uma Princesa) em que se notabilizou.

Por fim, falando da sonoplastia, a premiada Banda Sonora de Brokeback Mountain está particularmente bem conseguida pelo reconhecido compositor argentino Gustavo Santaolalla, que já tinha, aliás, dado provas do seu valor no recente “Diários de Che Guevara”. Tendo-se baseado no livro, e não no filme, para a compor, demonstrou especial competência ao adaptar na perfeição a intencionalidade bucólica dos solos de guitarra de Daniel Lanois -que constituem grande parte das faixas integradas no filme -, à profundidade impressa nos espaços de Brokeback, os quais, além de lindíssimos, em muito enriquecem a ideia de lirismo e de solidão característicos. Porém, esta Banda Sonora além de primar pela beleza, também se distingue pela versatilidade e variedade de sons, nela figurando desde belíssimas baladas – particularmente a premiada “A Love that will never grow old”, por Emmylou Harris -, a faixas country – Willie Nelson em “He Was a Friend of Mine” -, passando pelo folk, jazz ou pop/rock.
De referir ainda que a Banda Sonora, bem como o conto original de Brokeback Mountain estão disponíveis nas lojas portuguesas do género.

Em jeito de conclusão, creio tratar-se de um filme de extrema qualidade, que seduz não só pelo despretensiosismo e universalidade da história, mas pela sua profundidade e pela impossibilidade de a ele ficarmos indiferentes - persegue, até ao mais céptico, por dias a fio, pelo seu carácter tão incomodativo e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, tão natural e comovente.
Por um lado, rotulado injustamente e criticado de forma demasiado dura; por outro amado e impulsionado a uma ascensão espantosa, Brokeback Montain é filho do marketing e da polémica; é fruto da dedicação e mestria de uma equipa; e vive de pormenores que não seriam possíveis sem a riqueza das personagens e das interpretações de Jack Twist e Ennis del Mar, cuja história de amor prima pela universalidade, fazendo-nos esquecer a todos os preconceitos e as convenções sociais, quer por 2 horas quer por uma vida inteira.
Com efeito, parafraseando o próprio e único Ang Lee, “Brokeback Mountain tem o poder de partir corações… ou, talvez mais importante, de os abrir”.

sexta-feira, abril 07, 2006

Lançamentos DVD - Abril

Dada a circunstância de não estarmos propriamente no início do mês, vou recorrer ao aforismo popular “Mais vale tarde que nunca” para me defender deste atraso… Assim sendo, aqui fica a lista de lançamentos de DVD deste mês, tarde e a más horas, mas chegando sãos e salvos!

4 de Abril

> Colecção Akira Kurosawa (Play Entertainment)
6 de Abril

>Ben-Hur - Edição especial coleccionador (Warner)
>King Kong (Universal)
>King Kong - Edição especial (Universal)

13 de Abril

>Le Roman de Renart/ O Salta-Pocinhas (LNK)
20 de Abril

>Arsène Lupin/ Arsène Lupin - O Ladrão Sedutor (Prisvídeo)
>Corpse Bride/ A Noiva Cadáver (Warner)
>E.R. (5ª Série)/Serviço de Urgência (Warner)
>Friends (5ª Série)/Amigos (Warner)
>North and South (Vol. 1)/Norte e Sul (Warner)
>The West Wing (4ª Série)/ Os Homens do Presidente (Warner)

21 de Abril

>The Constant Gardener/ O Fiel Jardineiro (LNK)
>Into the Blue/ Profundo Azul (LNK)
>Temporada de Patos (LNK)

27 de Abril

>Pack 24 (3ª Série)/ 24 (LNK)

28 de Abril

>Doom Doom - Sobrevivência (Universal)
>Ghost in the Shell - Stand Alone Complex/ Ghost In The Shell - Cidade Assombrada Vol. 6 (Universal)

Com data a confirmar

>Lost (1ª Série)/ Perdidos (Lusomundo)
>Desperate House Wives (1ª Série)/ Donas de Casa Desesperadas (Lusomundo)

Corpse Bride - Artigo Crítico

CORPSE BRIDE

Ano: 2005
País: Reino Unido
Género: Animação Fantástico Comédia
Realizador: Tim Burton/ Mike Johnson
Cast: Johnny; Depp Helena Bonham Carter; Emily Watson; Albert Finney; Christopher Lee



Deve-se, naturalmente, iniciar por dizer que “A Noiva Cadáver” é o novo filme do génio Tim Burton, em que, desde o “Estranho Mundo de Jack” (1993) e “James and The Giant Peach” (1996), este torna a apostar na já por muitos esquecida técnica de Stop-Motion, da qual o conceituado realizador é pai fundador – e é a partir desta pequena informação que o filme deixa de requerer demais apresentações. Assim, classificado como um filme de animação musical, confronta, como é já seu apanágio e mais uma vez, a sua percepção e visão da morte, distorcida e bizarramente vibrante, deitando por terra todas as ideias pré-concebidas, cultural e milenarmente associadas.

Num ano de falhanços dos blockbusters oficiais, a acusar a falta de um filme popular e mainstream para manter o equilíbrio e tradição hipócrita das Academias, Globos e companhia – à excepção do King Kong de Peter Jackson, embora mesmo este com uma estreia bem modesta nas bilheteiras -, quando já todos daríamos o ano de 2005 como concluído em termos cinematográficos, com uma réstia de desilusão no olhar, eis que nos chega, das mãos de um realizador cuja reputação em Hollywood já viu melhores dias, uma razão para sorrir.

Polémicas aparte, voltando ao motivo por que escrevo hoje, passo à explanação dos motivos por que se faz revestir Corpse Bride, para ser considerado, no meu ponto de vista, o melhor filme de animação do ano. E, tal é a qualidade do mesmo, que arrisco mesmo a expandir o conceito a todas as longas-metragens que passaram pelas nossas salas de cinema o ano transacto.

Mais uma vez, o génio Tim Burton surpreende, superando-se de forma personalizada e mágica, como, aliás, se tem vindo a repetir ao longo das suas obras - que compõe a carreira de um génio, que fala por si, e as ideias de um excêntrico para quem, devido às suas origens, a morte não é um tabu. Embora não seja tão reconhecido quanto devia, surge-nos como uma figura que muito fez pelo cinema actual, praticando um estilo inovador e renovando, de obra para obra, a sua condição de um dos melhores realizadores de sempre.

Como já afirmado, a Morte é um tema recorrente na sua obra, embora a aborde nos seus filmes não numa perspectiva necrófila – que é a dedução imediata, quando se afirma que nos seus filmes pratica um certo culto à morte -, mas numa visão humorística e cáustica, resumida, em duas palavras, como politicamente incorrecta. Corpse Bride é mais um exemplo em que o faz com especial mestria.

Mas passando da esfera geral, para a particularidade da obra que me propus analisar, como a sinopse nos conta, os acontecimentos deste filme têm lugar numa cidade europeia victoriana com todos os elementos figurativos do século XIX, e rodam em volta de um jovem de nome Viktor (Jonhy Depp), filho de um casal de burgueses, que é obrigado a casar com Viktoria, membro de uma família da Nobreza falida – os primeiros citados vêem este casamento como uma forma de ascenderem à mais alta sociedade, e os segundos, como o restituir da sua condição económica que, imerecidamente, lhes fora retirada pelo ditar da crise depressionária vivida pelos nobres do referido século.
Como qualquer história com semelhantes premissas, os dois jovens prometidos, por não se conhecerem, experimentam receio do casamento, por este ter sido arranjado e se basear em interesses. Porém, e apesar de, quando se vêem pela primeira vez, a empatia ter sido imediata, a verdade é que o medo do comprometimento persiste, e, aquando dos ensaios para a cerimónia matrimonial, Viktor – já de si, um rapaz desastrado -, não consegue proferir correctamente os votos de casamento, envergonhando todos os presentes. Assim, com o intuito de se acalmar, segue vagueando para uma floresta, onde acaba por prometer amor eterno por engano a um cadáver, de seu nome Emily (Helena Bonham Carter), quando praticava o colocar da aliança no que ele achava não ser mais que um pequeno ramo de uma árvore. Desta forma, desperta a Noiva Cadáver, o jovem vê-se transportado para um mundo subterrâneo povoados pelos mortos, onde deve desposar a cadavérica Emily, que não deixa cair as promessas em saco roto. Enquanto introduzido ao sub-mundo, a noiva real, a doce e frágil Viktoria, espera por ele no mundo dos vivos.
Desta forma, assistimos a 76 minutos de pura magia, um desfilar de personagens representativas de tipos sociais, e em que o trio amoroso que se forma inicialmente experimenta um desenvolvimento de aprendizagem no sentido que o amor verdadeiro não tem fronteiras, e em que todos os obstáculos são transponíveis, mesmo os da própria morte.
E ainda que a sinopse possa parecer um tanto infantil ou demasiadamente bizarra, posso dizer-vos que é muito redutora de tudo que é o filme – ou não seria uma sinopse, na verdade -, sendo que a história narrada é de uma beleza extrema e embora se passe, em parte, num mundo inexistente e que, à partida, apela ao nosso espírito mais reticente – circunstância esta para a qual contribui a má escolha do título, de que falarei posteriormente - é muito real e completamente “transportável” para os nossos dias. Arrisco mesmo a afirmar, que é passível de se nos apresentar como uma verdadeira lição de Vida. E é impossível, até para a pessoa mais céptica, mais cinzenta e menos imaginativa, conter um sorriso ou mesmo uma lágrima ao longo do filme – e acreditem que não exagero quando digo que arrepiar de comoção, ao longo da película, não é raro, além de que temos oportunidade de assistir a alguns dos melhores momentos de cinema dos últimos anos.
Porém, mesmo numa história de amor verdadeiro, Tim Burton não prescinde do tom cáustico e satírico que são já seu apanágio e elemento sempre presente e indiscutível nos seus filmes. Assim, Noiva Cadáver apresenta-se como sendo, simultaneamente, um filme extremamente divertido, mas muito complexo; bem-humorado mas sério e comovente. Como essencial exemplo desta confrontação Humor vs Melancolia, são uma constante as piadas em relação à temática da Morte, que nos surgem como forma de a desmistificar, apesar do facto de que somos, ao longo do filme, levados a discernir seriamente em relação a este tema no que concerne as relações humanas e pensar até que ponto o findar da vida marca também o perecer dos sentimentos.
Além disso, é ainda de referir, no que toca história, que se mantém fiel ao período histórico em que se passa (meados do séc. XIX), o que não deixa de ser interessante verificar-se em alguns pormenores nesse sentido – como a esfera de hipocrisia na relação das duas famílias, personificada pelo desdém e repugnância da nobreza pelos chamados Novos-Ricos; e também pela carácter ingénuo e popular dos burgueses, quando se lhes é oferecida a possibilidade de ascenderem á alta nobreza, objecto da sua ambição, não escondendo as suas origens modestas.

Ainda neste campo, para quem viu outra das obras de Tim Burton, Nightmare Before Christmas (que é, também, indiscutivelmente, uma obra-prima, cuja sinopse se distancia em muito da de Noiva Cadáver, embora apresente temáticas semelhantes, em alguns pontos), que usa a mesma técnica de Stop Motion, são inevitáveis as comparações – Corpse Bride surge-nos, assim, como um filme muito mais comercial, isto é, mais universal e mais fácil de o público se identificar e gostar do que o primeiro citado, quanto mais não seja, porque narra, essencial e centralmente, uma história de amor… um tanto atípica, é verdade, mas de amor. Neste aspecto, creio que A Noiva Cadáver é um filme recomendado a todas as faixas etárias – embora os mais novos terão dificuldade em desfrutar do argumento em toda a sua plenitude, por falta da maturidade necessária -, abrangência e versatilidade estas que podem ser postas em causa, pelo título exageradamente sombrio, que apontaria – ao espectador mais desatento, casual e desinformado -, que se trataria de um filme de terror, o que não poderia estar mais longe da verdade. Aliás, a pouca inteligência e planeamento de marketing demonstrados na escolha do título surge-nos como um dos escassíssimos pontos negativos deste filme, o que não deixa de ser, paradoxalmente, um excelente apontamento da qualidade da longa-metragem.

Nos aspectos técnicos, visualmente, o filme está um espanto, com a técnica de Stop Motion a ser levada á sua plenitude de qualidade – o que encerra muito mérito, pois trata-se de uma técnica em crescente esquecimento, pelo trabalho exagerado que requer, pois é, naturalmente, filmada com marionetas detalhadas, “frame-by-frame”, isto é, trocado por miúdos, segundo a segundo. Uma das dificuldades apontadas desta técnica é mesmo a de passar a expressão e emoção para marionetas inanimadas, e dar-lhe o ar humano, em maquetes e cenários minuciosamente construídos: e posso afirmar que também neste aspecto, o filme é uma verdadeira obra de arte, cumprindo, em perfeição, o seu intuito. E é, assim, merecedor de todos e quaisquer elogios.
De referir, são os contrastes de cor que surgem em A Noiva Cadáver, que tomam especial importância e amplitude na ideia permanente de confrontação e paralelismo entre o Mundo dos Mortos e o dos Vivos. Já, em muitos filmes, vários realizadores se propuseram a idealizar e efectivar o mundo do Além, em perspectivas mais optimistas ou pessimistas, mas é de duvidar que algum deles se tivesse lembrado de, ao contrário do que as nossas concepções clássicas nos deixaria imaginar, nas hipóteses mais últimas e improváveis, que o primeiro nos surgisse muito mais colorido e divertido, em permanente festa e animação, opondo-se ao “cinzentismo” do mundo dos vivos – também neste aspecto, o humor cáustico e politicamente incorrecto, já referido, contribui grandemente, quer por “gags” visuais ou verbais.

Por fim, falando da sonoplastia, - e porque não nos podemos esquecer, que mais do que um romance e comédia, se trata de um filme de animação musical -, outro grande génio volta a surpreender, e o quase igualmente gigante Danny Elfman torna a presentear-nos com uma banda sonora espectacular. Adaptando-se que nem uma luva ao ambiente do filme, ajuda a recriá-lo de uma forma muito mais interessante e mágica.
Particularmente, os quatro temas cantados, interpretados pelo elenco de vozes do filme, e ainda as músicas exclusivamente instrumentais, que abrangem os mais variados estilos musicais, que passam desde a música orquestral, clássica (componente muito enfatizada nas sequências de piano), ao jazz, que toma peculiar presença nas sequências associadas à animação no mundo dos Mortos. Danny Elfman é, também, uma figura que conquistou um lugar de responsável pelas bandas sonoras de quase todos os filmes de Tim Burton, sendo, igualmente, evidente a cumplicidade e os bons resultados destas colaborações – tanto para Danny Elfman, que saiu do anonimato com a aposta que o realizador fez nele, para se tornar nos músicos de maior prestígio no cinema actual, como para Burton, cujos filmes ficam a ganhar com a extrema dedicação e criatividade do compositor.
De destacar ainda, é a disposição das pistas no respectivo disco da banda sonora que mantém a sequência apresentada no filme, sendo fiel à sua cronologia. Este facto permite-nos afirmar que, com os pontuais excertos de diálogo, se nos apresenta como uma espécie de Filme Sonoro, que possibilita, àqueles que viram o filme, reviver todos os seus momentos, e àqueles que não o tenham ainda feito, desfrutá-lo sem necessitar de uma narrativa de suporte. Ainda no domínio de som, refiro ainda a excelente elenco escolhido para a interpretação e empréstimo das vozes ás personagens, que, sendo já de si riquíssimas em carisma, sentimentos e emoções, ainda tomam mais expressão quando associadas a actores e actrizes talentosos e de reconhecimento irrefutável. Assim, para além dos citados Jonhy Depp e Helena Bonham Cárter, respectivamente, nos papéis de Viktor e Emily, é ainda de destacar a presença de Emily Watson encarnando Viktoria, entre outros, como Albert Finney, Richard Grant, Joanna Lumley e Christopher Lee.

Em conclusão, creio tratar-se de um filme de extrema qualidade, que espelha muito bem o extremo talento de um realizador adorado por muitos, odiado por tantos outros, que alcançou o seu “lugar ao sol” no mundo dos que terão sempre lugar na nossa memória. Tendo provado ser um dos melhores realizadores de cinema de todos os tempos, e uma prova de que não temos que nos seguir sempre pelo padrão para encontrarmos o sucesso, Tim Burton personifica o valor da diferença de forma exímia, e isso lhe vale – bem ao estilo da cultura literária portuguesa, como uma associação bizarra -, “que se vá da lei da morte libertando”! Noiva Cadáver – Corpse Bride, por terras distantes -, surge-nos como um filme recomendadíssimo, abrangendo todas as faixas etárias, sendo que o único requisito para se ficar a adorar o filme, é o de possuir o poder de respirar… e daí, mais uma vez numa analogia um tanto tétrica, talvez não…

Estreias - 06/04

Chegada mais uma Quinta-Feira e renovam-se os motivos para se avivarem os sorrisos dos Cinéfilos Portugueses – como é sabido, este dia da semana marca a estreia de novos filmes nas salas do nosso país, cuja disponibilidade, não obstante da lista e da generalização que apresentarei de seguida, deve ser verificada nas salas específicas que mais convierem.

Sem mais delongas, aqui ficam os Filmes que poderão ser vistos em Portugal a partir do dia de hoje:

Instinto Fatal 2
“Everything interesting begins in the mind.”

Título original: Basic Instinct 2
Ano: 2006
Género: Thriller
Realizador: Michael Caton-Jones
Elenco: Sharon Stone; David Morrissey; Charlotte Rampling; David Thewlis
Site oficial: http://www.sonypictures.com/movies/basicinstinct2/
Duração: 114 min

Sinopse
Marcando o regresso de Sharon Stone às Salas de Cinema, a estreia de Instinto Fatal 2 – sequela do filme homónimo que viria a marcar para sempre a imagem da actriz citada – marca também o retorno de um dos mais emblemáticos thrillers da história do cinema, pautado pela sedução do início ao fim da fita. E descansem-se os fãs, esta característica não é descurada neste segunda remissa das aventuras da novelista Catherine Trammel (Sharon Stone) que, encontrando-se novamente com problemas com a justiça, se vê envolvida num jogo de sedução com o psiquiatra Dr. Michael Grass (Morrissey), chamado pela Scotland Yard para a avaliar.

Antártida - Da Sobrevivência ao Resgate
The Most Amazing Story Of Survival, Friendship, And Adventure Ever Told.”

Titulo Original : Eight Below
Ano: 2006
Género: Aventura Drama
Realizador: Frank Marshall
Elenco:Paul Walker; Bruce Greenwood; Moon Bloodgood ; Jason Biggs
Site official: http://disney.go.com/disneypictures/8below/
Duração: 120 min.

Sinopse:
Um Acidente Inesperado e a condições meteorológicas extremas são as premissas que desencadeiam esta aventura protagonizada por três membros de uma expedição científica à Antártida – estas circunstâncias forçam os nossos protagonistas, Jerry Shephard (Paul Walker), Cooper (Jason Biggs) e um geólogo americano com um feitio particular (Bruce Greenwood) a abandonar os seus cães de trenó, deixando-os sozinhos na luta pela sobrevivência contra o próprio carácter implacável da natureza. É, com efeito, uma história de sobrevivência, e de amizade que ultrapassa quaisquer privações.. e de amor incondicional.

Ultravioleta
The Blood War is On”


Título Original: Ultraviolet
Ano: 2006
Género: Ficção Científica Acção
Realizador: Kurt Wimmer
Elenco:Milla Jovovich; Cameron Bright; Nick Chinlund; William Fichtner
Site oficial: http://www.sonypictures.com/movies/ultraviolet/
Duração: 88 min.


Sinopse:
Passado no séc. XXI, narra a história de uma guerreira solitária de uma sub-cultura humana que luta contra a sua extinção provocada e procurada pelos humanos – tomam-se pelo nome de Hemofagos, cuja génesis está relacionada com mutação genética que lhes confere características semelhantes às de vampiros, e apresentam uma ameaça a um ditador totalitário que se nos apresenta como o arqui-inimigo de Violet (Milla Jovovich), a heroína da história.

Como despachar um Encalhado
To leave the nest, some men just need a little push.”

Título Original: Failure to Launch
Ano: 2006
Género: Comédia Romance
Realizador: Tom Dey
Elenco:Matthew McConaughey; Sarah Jessica Parker; Zooey Deschanel; Justin Bartha; Bradley Cooper
Site oficial: http://www.failuretolaunchmovie.com/
Duração : 97 min

Sinopse:
Maioria dos jovens, opta/anseia por sair de casa assim que atingem a maioridade, e na impossibilidade de o fazer, nunca deixam esta decisão estender-se para um período posterior aos 20-25 anos – mas como para haver generalizações, é preciso quem quebre a regra, Tripp (Matthew McConaughey), o protagonista desta longa-metragem, conta no currículo com 35 anos de vida, e ainda não saiu de casa dos progenitores. Mais uma vez quebrando regras feitas, embora todos pensemos que é o sonho de qualquer pai ou mãe manter o filho sobre sua alçada até tal idade, a verdade é que os pais de Tripp não se encontram particularmente satisfeitos com a situação – decidem, com efeito, contratar uma linda e talentosa “rapariga dos seus sonhos” (Sarah Jessica Parker), para convencer a tomar esse passo importante da sua vida – e, convenientemente, da deles!

quarta-feira, abril 05, 2006

Saudações...

Olá a todos…

Não obstante do facto de o nome deste blog já constituir uma definição do mesmo – para os mais distraídos, refiro-me à designação de “Cinéfilos Anónimos -, penso que devo começar esta minha aventura neste campo do Universo Internauta por dar a conhecer os motivos, objectivos, ambições inerentes à criação deste espaço… enfim, contar um pouco dos seus sonhos mais abrangentes, dos seus horizontes mais longínquos, a sua razão de existir.

Porém, nesta odisseia intelectiva que é explanar todo esse conjunto de circunstâncias - embora a ambiguidade e a riqueza da língua portuguesa pudessem constituir bons instrumentos para vos encher de retóricas excessivas, com vista a revestir este espaço de motivos nobres e fundamentos universais -, encontro-me tentada a resumir tudo isto numa só e simples frase que sintetize suficientemente a origem do mesmo… “Cinéfilos Anónimos” trata-se de um espaço aberto à discussão das maravilhas do mundo fantástico das artes visuais do Cinema e da Televisão, com espaço à informação pura e simples – novas saídas, estreias, curiosidades -, mas também promulgando a exposição de artigos de opinião – análises a filmes, séries e eventos.

Posso, ainda, afirmar que o faremos com a dedicação própria de fanáticos de cinema, e nunca com a presunção de nos afirmarmos como uma autoridade no assunto – e, dando-nos por um momento a analogias empolgantes, apresentamo-nos com o empenho e dedicação de um filme independente, que tem como divisas o despretensiosismo e dedicação. A não esquecer também, portanto e com efeito, é de que o objectivo deste blogue se pauta não só por nos divertirmos a falar daquilo que mais gostamos, mas também a partilhar esse prazer com aqueles corajosos e pacientes o suficiente para nos lerem e aturarem as “manias” – exceptuando, talvez, os nossos familiares, se conseguirmos o sucesso suficiente.

Não podemos prometer – como um certo programa** cuja disponibilidade e abrangência se apresentavam como infindáveis e inigualáveis – que “se acontecer estamos lá; se ainda for acontecer estaremos lá; se estiver a acontecer, estamos lá” e toda uma panóplia de garantias… posso, sim, afirmar que nos revestiremos com tudo o que estiver ao nosso alcance para vos informar com o máximo rigor, correcção e prontidão possíveis no que a este mundo do fantástico concerne e vos fazer chegar os mais variados artigos de opinião – tentando superar ao máximo as nossas limitações inerentes ao facto de que temos, de facto, vida pessoal e somos seres humanos com tudo que o termo abarca, inclusive, a falibilidade.

Sem mais delongas, resta-me desejar-te uma boa estadia pelo nosso espaço, e pedir-te que deixes o nosso sonho guiar-te à sua descoberta!
A Equipa dos Cinéfilos Anónimos
“Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”, Charles Chaplin

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**Embora a ética e a moral me impeçam de dizer o nome do referido programa, penso que será inofensivo afirmar aqui para nós, que ninguém nos ouve, que tinha como letra inicial “C”, final “S”, e cujo interior era “artaz das Arte”