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Cinéfilos Anónimos: janeiro 2007

Cinéfilos Anónimos

terça-feira, janeiro 23, 2007

Óscares 2007 - Nomeados

Tendo sido anunciada a lista há poucas horas- pelo Presidente da Academia, Sid Ganis, fazendo-se acompanhar pela actriz mexicana Salma Hayek -, são já conhecidos os nomeados para a 79ª edição dos Óscares da Academia, a realizar-se, como é habitual, no Kodak Theater, no próximo dia 25 de Fevereiro. Na ressaca dos Globos de Ouro – cerimónia que datou da madrugada de 15 de Janeiro, hora portuguesa –, e perante os vencedores que então se conheceram, estas nomeações da academia não trazem consigo muitas surpresas, adivinhando-se, todavia, confrontos que podem revelar-se interessantes.


Na impossibilidade de uma avaliação mais detalhada – já que muitas destas obras são, ainda, recentes no circuito do cinema nacional, havendo outras que nem estrearam, não tendo sido, portanto, por nós visionadas -, são de destacar alguns aspectos que esta lista deixa antever, nomeadamente: a fortíssima concorrência presente no leque de nomeadas para Melhor Actriz Principal, motivada pela enorme reputação atribuída a nomes como Judi Dench e Meryl Streep; a crescente valorização de outras como Kate Winslet e Penélope Cruz; e o reconhecimento merecido e já traduzido em galardões de Helen Mirren – embora, pessoalmente, creia que a competição se dá quase exclusivamente num plano teórico, já que o prémio não deverá fugir à “rainha”, e sendo que, havendo surpresas, poderão vir apresentar-se em espanhol, revelando a minha crença de que a (hipotética?) disputa deverá, muito provavelmente, integrar as duas últimas citadas. Pelo contrário, a competição masculina equivalente – Galardão de Melhor Actor Principal -, embora apresentando um leque claramente inferior no que concerne à popularidade/qualidade dos protagonistas, deverá apresentar-se bem mais renhida, com Leonardo DiCaprio e Peter O’Toole a encabeçarem a lista de favoritos – sendo que, mais uma vez, não tenham sido nomeações que abarcassem grande surpresa, que, a existir, seria no facto do primeiro citado não o ter sido pelo “The Departed” ("Entre Inimigos"), mas sim por “Blood Diamond” ("Diamante de Sangue"). Por fim, naquela que pode ser apenas uma impressão muito pessoal, destaca-se o elevado número de nomeações atribuídas a “Dreamgirls” (8) e “Little Miss Sunshine” ("Uma Família à beira de um ataque de Nervos") (4), filmes cotados, respectivamente, como musical e comédia, sendo que a surpresa reside no conhecido e duradouro preconceito da Academia por estes dois géneros cinematográficos; o significado desta tendência é, porém, de relativa relevância já que, no caso do primeiro citado, as nomeações se dispersaram por inúmeras categorias técnicas, tendo sido posto de lado no que aos grandes galardões concerne – e casos recentes referentes à nomeação de musicais nas mesmas circunstâncias atribuem a estas escolhas um certo grau de indiferença -, restando-nos esperar, com efeito, pela madrugada de 25 de Fevereiro pelas implicações (ou falta delas?) deste “suposto fenómeno”.

Em última observação, destacam-se: a presença de um filme não falado em Inglês – embora realizado pelo americano Clint Eastwood -, no lote de candidatos a Melhor Filme, "The Letters of Iwo Jima"; a ausência de Sacha Baron Cohen do lote de actores principais (cuja justiça ou injustiça da não atribuição não posso comentar, já que não vi o filme em questão), depois de ter sido premiado nos Globos de Ouro; e o número de nomeações relativamente aos candidatos a Melhor Filme (Babel (7), The Queen (6), The Departed (5), Letters of Iwo Jima (4), Little Miss Sunshine (4)) ser suplantado por Dreamgirls (8), que, embora não seja escolha nesta categoria, é a obra que apresenta maior representação na lista de galardões; a expectativa habitualmente guardada para a performance do anfitrião da cerimónia que é, neste ano, e pela segunda vez na história dos Óscares, pontuada no feminino, pela carismática Ellen deGeneris – expectação essa que é enfatizada pelo brilhante desempenho de Jon Stewart, no ano anterior, a quem esta sucede na tarefa de apresentar a cerimónia, o que parece ser motivo do aparente fragmentação da opinião pública relativamente à escolha da humorista americana na edição deste ano; e a tão badalada presença, em massa, de cineastas mexicanos, na lista de nomeações, sendo que o que apenas me apraz expressar é o desejo de que, ao contrário do que aconteceu na edição do ano passado, a contextualização e relevância social e política das obras em concurso não seja nem um impeditivo à isenção, nem alvo de uma avaliação limitada por conveniências de terceiros, salvaguardando-se o carácter educacional que o cinema pode abarcar enquanto empresa de grande área de abrangência.

Sem mais de momento, deixo-vos com a promessa de uma futura avaliação, mais cuidada, do que nos poderá esperar na 79ª Cerimónia dos Óscares - cuja transmissão televisiva deverá estar a cargo, como habitualmente, em território nacional, da TVI -, bem como a revelação das nossas preferências, e com o convite para connosco partilharem as vossas! A lista, essa, pode ser consultada no site oficial da Academia, seguindo este link.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Violência sem sentido

2006 foi, em poucas palavras, um ano marcado pela violência, mais especificamente pela violência associada a confrontos religiosos, mais especificamente, pela violência associada a confrontos religiosos com ou entre grupos islâmicos. Iraque, Afeganistão, Palestina, Somália, ... Quase como um prenúncio do que nos espera para este 2007, um prenúncio de morte isto é, 2006 teve ainda tempo de terminar com o enforcamento "you-tubevisionado" de Saddam, para glória maior da civilização democrática (?).

É neste contexto que ninguém esquece ainda toda a comoção gerada em Fevereiro pela suposta "blasfémia" com que incorreram alguns jornais europeus ao publicarem 12 caricaturas do Profeta Maomé (quando o diário dinamarquês Jyllands-Posten publicou, pela primeira vez a 30 de Setembro de 2005, esses 12 desenhos, o facto passou quase despercebido). Os países muçulmanos responderam, com milhares de manifestantes nas ruas, por vezes em actos de violência. Foram concretizados atentados contra embaixadas de países nórdicos europeus, morrendo várias pessoas durante os protestos.

Mas como é que a sociedade ocidental se arranjou para clamar contra esta violência sem sentido? Bem, colocando o ónus da agressão junto dos órgãos mediáticos europeus, pela sua suposta insensibilidade e desprezo para com os valores culturais islâmicos.

A questão teve ainda eco no passado Outono com a controversa encenação da ópera Idomeneo na Deutsche Opera de Berlim. Nesta versão, o rei de Creta, Idomeneo, entrava em cena com as cabeças de Poseidon, Jesus, Buda e, alas, Maomé, distribuindo-as decepadas por quatro cadeiras.

Retirada de cartaz por receio de represálias islamitas, a obra subiu finalmente à cena em Dezembro, sob rigorosa vigilância policial. Sem problemas de maior.

Com este caso, a questão assaltava de rompante a produção cultural. Quão legítimo será que os produtores, criadores culturais auto-censurem as suas obras por medo (MEDO) das repercussões mediáticas? Ou, mais especificamente, das "repercussões islâmicas"?

O eco mais recente desta controvérsia encontra-se junto da série norte-americana (das melhores do género e de todos os géneros), "24", protagonizada por Kiefer Sutherland (na foto). Na semana passada, um grupo de muçulmanos americanos protestou contra um episódio da nova temporada da série por veicular estereótipos hostis ao Islão (nomeadamente, por retratar terroristas islâmicos a programarem um atentado nuclear).

Porque o contexto não é bem o mesmo, não se espera que os produtores da série tenham uma resposta semelhante aos da peça operática alemã - isto é, suspendam o programa, até amainar a situação. Até porque os muçulmanos americanos são um grupo politicamente irrelevante nesse País. No entanto, o assunto não deixa de merecer uma reflexão cuidada por todos nós.

Primeiro, será que uma série de televisão ou um espectáculto cultural devem proceder a uma análise cuidada dos seus próprios conteúdos, para verificarem se não contribuem a um indesejável ciclo de ódio e racismo, seja de que variação étnica se revestir. A resposta é, claro que sim. O poder (mediático) implica grande responsabilidade, já dizia o Homem-Aranha. Mas, então, deveremos reprimir estas rotulagens óbvias e fáceis, nomeadamente legislando contra? A resposta é, claro que não. Se eu quiser produzir uma série de televisão patrocinando todo o género de estereótipos e preconceitos sociais, estou no meu direito total, como membro integrante de uma sociedade democrática supostamente esclarecida. Desculpem-me os fãs, mas o "24", por exemplo, faz obviamente isso, como tantas outras, melhores ou piores, séries e filmes policiais americanos.

Então o que é que podemos e devemos fazer? Claramente, denunciar, protestar, propor alternativas e, finalmente, se nada mais resultar, simplesmente desligando o canal ou sair da sala de cinema. Os americanos que se divirtam entre eles.

PS: O que o espectáculo Idomeneo fez não é bem a mesma coisa que a série "24" faz. A ópera propôs uma re-conceptualização "artística" da visão de Mozart sobre a opressão religiosa; não se preocupando exclusivamente com a religião islâmica. A série "24" explora os preconceitos americanos pré e pós 11 se Setembro, reflectindo e veiculando aquilo que são as imagens primordiais negativizadas do muçulmano na maior potência ocidental.

domingo, janeiro 21, 2007

(En)Volver

Realizado, em 2006, por Pedro Almodóvar – reconhecido e premiado realizador cinematográfico – Volver conta, ao nível mais pragmático e objectivo, a história de duas irmãs “mal casadas” e sós que, perderam os pais, anos antes, num incêndio e que aprendem a lidar com a perda e com os que teimam em lembrá-la, acreditando que os mortos voltam à vida para resolver assuntos que nesta deixaram pendentes; se ousarmos avançar com uma análise mais abrangente, concordarão que nos é apresentada uma reflexão atenta e perspicaz acerca de crenças culturais e ingénuas, suas implicações, seus rituais e seus significados.

A película descreve o quotidiano sofrido de mulheres do povo – a, simultaneamente, elegante e rude, corajosa e frágil, Raimunda (Penélope Cruz), a sensível e ingénua Sole (Lola Dueñas), a jovem Paula obrigada a crescer a desafio da vida (Yohana Cobo), a saudosista, solidária e humilde Agustina (Blanca Portillo) e a misteriosa Irene (Cármen Maura) – à boa maneira de Almodóvar, que parece apostar na imagem como descrição (tão real que preferimos imaginá-la poetizada), privilegiando a objectividade cruel das coisas e dos factos. Também característico do realizador, verifica-se a primazia que é oferecida à análise relacional das personagens e dos contextos nas suas mais diversas vertentes: enquanto relações de instinto, de poder, de veracidade, de união, de integração do que é pessoal, de suporte e de sentido.

Atentando no título e no que este pode sugerir, parece tratar-se de uma história que decifra as significados do voltar – voltar-repetir (como se a nossa vida resultasse de uma séria de heranças geracionais e os factos constituíssem meras reproduções do passado, sem que haja espaço de autoria), voltar-regressar (num revisitar de afectos, no desejo de resolver e entregar-se), voltar-esperança (num ímpeto de novas oportunidades que permitem agigantar as forças e permitir o sonho com um futuro sorridente) – com a capacidade incomum de (en)volver o espectador num processo de auto-reflexão e num balanço de sentido(s) para a vida e para a intimidade.



quinta-feira, janeiro 11, 2007

Dr. House MD - Artigo de Opinião

A história desenrola-se num hospital e oferece-nos o dia-a-dia de uma equipa de médicos a trabalhar sob a pressão implicada no diagnóstico de casos raros, complexos e impensáveis, sujeitos a uma pressão ainda maior e mais difícil de suportar – a liderança arrogante, insensível e sarcástica de Gregory House (Hugh Laurie). Assim, condimentada ao bom gosto da ironia e do sentido de humor, a personalidade deste brilhante médico e a vivência narcísica (e de sucesso) do desempenho da sua actividade profissional são servidas fria e/mas astutamente!

É certo que é difícil refutar algumas das críticas que são dirigidas à série (e que eu própria já elenquei em tempos): incipiente plausibilidade dos casos e soluções, carácter constante de excepcionalidade dos mesmos, rigor questionável (?) das práticas e conceitos médicos aplicados, pouco ou inexistente cuidado ético nas medidas implementadas… Mas também é verdade, a meu ver, que não parece aí residir nem o propósito, nem o carácter de originalidade da mesma; o segredo parece estar em ser capaz de descortinar o que poderá estar para além do óbvio, aproveitando o que o simples e o horrível podem ter de hilariante.
Não querendo ter a veleidade, nem a presunção, de me afirmar como capaz de tal proeza, posso apenas limitar-me a partilhar opiniões - neste sentido, para além do acutilante sentido crítico do humor que aqui se pratica, a par dos supracitados “calcanhares de Aquiles” (sempre dolorosos!), penso que a série se reveste de momentos densos de reflexões, tão caladas que emocionalmente ensurdecedoras, acerca do (inquietante) sentido da vida, do vazio das perdas e do medo do fim! Lidar com tudo isto não se augura tarefa fácil, pelo que a aparente fuga – uma vez que, apesar de tudo, falamos de um mestre na arte da relação – e a sobrevalorização do papel desempenhado com sucesso – o profissional – se apresentam como a única saída possível (será?!).

Acresce a esta premissa já de si, pelo menos, questionante, o avanço da(s) história(s) conduzido por sucessivas e articuladas dicotomias – egoísmo/altruísmo, admiração/inveja, maldade/preocupação, falsidade/genuinidade – que se reveste, no fim de contas, de uma sensível humanidade (bem camuflada!).

Talvez esta análise seja um sintoma da dependência que tenho vindo a desenvolver. Efectivamente, apesar de nem sempre o ter sabido compreender, assumo-me como admiradora (incondicional?!) do Doutor House! Mas, se alguns entendem que o assumir da dependência é o primeiro passo para a cura, no meu caso parece que faz sentido a máxima “só muda quem deseja mudar” de modo que a admiração tende agravar-se…


… ainda mais se tivermos em conta a estreia da 2ª temporada da série, hoje (11 de Janeiro), às 00h45, na TVI!