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Cinéfilos Anónimos: outubro 2007

Cinéfilos Anónimos

quarta-feira, outubro 31, 2007

Westerns para sempre!



E, de repente, o western parece estar de volta! Pelo menos, a temporada cinematográfica Outono/Inverno conta com três estreias importantes enquadradas naquele que é considerado o género clássico americano por excelência: “3:10 to Yuma” de James Mangold; “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford” de Andrew Dominik e “No Country for Old Men” dos irmãos Joel e Ethan Coen.

“3:10 to Yuma” é um remake de um clássico menor homónimo de 1957, adaptado de um conto de Elmore Leonard e conta nos principais papéis com duas das maiores estrelas cinematográficas da actualidade: Russel Crowe e Christian Bale. O realizador é James Mangold, muito galvanizado com o recente sucesso crítico e público de “Walk the Line” (2005). "3:10 to Yuma" estreou a 7 de Setembro nos cinemas americanos, resultando num sucesso comercial moderado e para uma recepção crítica bastante favorável.

“The Assassination of Jesse James…”, filme adaptado de um livro homónimo de Ron Hansen, também já estreou do outro lado do Atlântico, igualmente com boas impressões da crítica mas com resultados de bilheteira bastante aquém das expectativas. Afinal, tratava-se do épico protagonizado por Brad Pitt e, ao que parece, pontuado pela interpretação crucial de Cassey Affleck (esperava-se que o actor aparecesse em 2008 com um estatuto mediático mais interessante do que o do irmão mais novo de Ben Affleck).

Finalmente, o último a estrear nos Estados Unidos, “No Country for Old Men”, tem sido anunciado como o grande regresso dos irmãos Coen à boa forma, mais uma vez uma adaptação cinematográfica de uma obra literária, desta vez de Cormac MacCarthy (o seu último livro “A Estrada” mereceu grande destaque mediático no Oprah Winfrey Show). O filme só chegará às salas americanas a 9 de Novembro, mas já teve a oportunidade de fazer uma passagem satisfatória pelo Festival de Cannes (apesar de não ter arrecadado quaisquer prémios), saindo reconhecidos os esforços dos seus actores principais: Tommy Lee Jones, Woody Harrelson, Josh Brolin e Javier Bardem.

Mas a questão que importa colocar: então o western esteve de todo ausente? E os referidos três filmes a estrear sucessivamente neste ano constituirão mesmo um despertar da Fénix adormecida?

Antes de propôr uma resposta. Pedir-se-á aos esclarecidos da sétima arte para nomearem o último western relevante da história cinematográfica e provavelmente 9 em 10 respostas levar-nos-ão ao início dos anos 1990 com “Imperdoável” de Clint Eastwood ou “Danças com Lobos” de Kevin Costner. Por direito próprio, ambas as obras ocuparam um nicho histórico indiscutível – diferenças estilísticas à parte, ambas por terem reorganizado as regras clássicas do género, sem realmente o abandonarem. Esforço que não se deve confundir com os sublimes embates de Sérgio Leone com os seus spaghetti westerns dos anos 1960 e 1970.

“Imperdoável” e “Danças com Lobos” não foram os primeiros ou os últimos westerns revisionistas, mas foram aqueles que importaram. Ambos constituindo-se como grandes homenagens ao western clássico (o do John Ford ou do Howard Hawks), seguindo determinadas convenções e auto-regulações, mas sabendo apreender uma essência particular, revertendo as polaridades ou redefinindo as prioridades e, finalmente, assumindo uma orientação idiossincrática com uma mensagem esclarecida.

Mas, e voltando ao início, não, não é verdade que “3:10 to Yuma”, “The Assassination of Jesse James…” ou “No Country for Old Men” sejam um regresso ao western. Da mesma maneira que “Imperdoável” ou “Danças com Lobos” não o foram. Isto porque muito simplesmente o western nunca esteve ausente. E não estou a referir-me a "Deadwood".

As obras artísticas são características dos seus tempos e personalidades, e é assim que devem ser entendidas. Por isso é que o tempo do cowboy de chapéu branco a cavalgar na pradaria e índios selvagens a assaltar diligências já terminou. Mas o western continuou.

Sempre que assistimos à saga do viajante solitário, seja contra o pôr-do-sol das planícies texanas ou a furar as fronteiras do espaço sideral; que o vemos a enfrentar uma trupe de malfeitores, ou meliantes, tiranos e opressores sobre um povo desguarnecido; e nessa empresa surge auxiliado pelos co-protagonistas da circunstância (velhos sábios, donzelas deslumbrantes ou amigos bonacheirões); e no fim vence e ruma para o mesmo desconhecido donde surgiu, estamos perante um western.

No sentido que o western é basicamente uma epopeia americanizada. A saga de um herói individual que assume a responsabilidade de cuidar dos mais fracos ou desprotegidos, aplicando as mesmas armas do inimigo afim de o neutralizar. Isto com a salvaguarda fundamental de nunca por em causa a integridade e inocência daqueles que deve proteger. E esta conceitualização é tão americana como a tarte de maçã.