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Cinéfilos Anónimos: Capote

Cinéfilos Anónimos

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Capote

Realizado por Bennet Miller e apresentado em 2005, Capote é um filme biográfico acerca do escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) e do processo de escrita do livro “A sangue frio” (“In cold blood”) que o tornou celebre por ser o primeiro do género por si inaugurado – romance de não-ficção. Centrado na história do assassinato de uma família natural de Holcomb (Kansas), o enredo do livro guia o protagonista para o estabelecimento de uma relação pessoal, que se torna próxima e até íntima (mesmo que esta não seja uma questão explorada extensivamente na película), com um dos assassinos – Perry Smith (Clifton Collins Jr.) – com o qual mantém longas entrevistas. Como quase sempre acontece, à medida que as emoções vão enublando a razão, Capote oscila entre o seu objectivo – com a frieza, ambição e determinação que o caracterizam – e a identificação com aquele Homem, estendendo a “passadeira vermelha” às suas dúvidas e inseguranças.

Se tivesse que escolher uma palavra que definisse a personagem tenderia a caracterizá-lo de “excêntrico”! Todavia, no momento em que terminasse de a pronunciar, talvez começassem a emergir as arrependidas “duro”, “oportunista” e “frio”. Não perdendo mais tempo com esta guerra de palavras que travo contra mim mesma, passo a salientar a excelente contribuição do actor Philip Seymour Hoffman – galardoado pela academia – e a primazia que é dada à análise das interacções entre as personagens – que permite a exposição da futilidade que a ribalta implica, que oferece um outro ponto de vista sobre o crime e que reflecte sobre a desumanidade do homem e a humanidade (?) de um assassino.

Ainda merecedor de menção, apresenta-se o facto de, ao longo do filme, o espectador ser introduzido a alguns traços menos comuns da personalidade do autor, ao carácter de competitividade e ciúme que caracteriza as suas relações (bem como à necessidade imperativa de reconhecimento) – patente de forma muito notória na sua interacção com Harper Lee (Catherine Keener), conceituada escritora e amiga de Capote, que experimentava o sucesso pelo lançamento do seu livro “To kill a mochinbird” – e às consequências dessa “sede de sucesso” que, sem olhar a meios, fazem parecer legítimas as utilização e usurpação da realidade à qual o ser humano está condenado. No que respeita, ainda, à gestão dos seus afectos (já apresentada como impasse ao império da razão) salienta-se o papel central que a forte semelhança entre as histórias de escritor e entrevistado e a inevitável identificação entre ambos exerce no processo de construção da(s) sua(s) identidade(s) e no resultado do mesmo, mostrando que a distância entre vivências pode ser determinante para a integração e aceitação social dos indivíduos.

Deixando (e esperando) espaço a comentários (outros e de outra natureza), termino com uma reflexão que é feita na obra – talvez esta seja a história de dois homens iguais que, a dada altura da vida, escolheram sair por portas diferentes.


1 Comments:

  • Vi o filme (uma das surpresas positivas do ano que agora finda) e concordo com a análise que traças do mesmo.
    T. Capote, por tanto se ter metido dentro de um facto real, acabou por ser absorvido pelo mesmo de tal modo que nada mais escreveu que se lesse a partir daí...
    O filme e o livro andam de mãos dadas na procura de uma personagem que interprete até às últimas consequências um dos criminosos. C. Collins Jr. conseguiu-o e saiu ileso. T. Capote não.

    Aproveito para desejar um óptimo 2007 cheio de... bons filmes!

    By Blogger Alberto Oliveira, at 6:46 da tarde  

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