The Black Dahlia - A Dália Negra
Baseado no romance de James Ellroy, “A Dália Negra” constitui a adaptação para o cinema de uma história verídica que, até hoje, permanece sem resolução e/ou explicação. De uma forma resumida, a obra conta o violento assassinato de Elizabeth Short (Mia Kirshner) – uma belíssima jovem que sonhava ser actriz, acreditando na “promessa americana” – na década de 40, quando o mundo via despontar nos palcos a mítica Marylin. Contudo, o sonho desvanece e a jovem passa a ser notícia e obsessão pública e policial, não por ver satisfeito o seu ensejo de se tornar uma estrela de Hollywood, mas dado o violento ataque do qual foi vítima. Trata-se de uma história que teria a potencialidade de denunciar a violência, a corrupção, a perversidade, o cinismo e hipocrisia do(s) mundo(s), limitando-se, porém, na minha opinião, a dar-lhe uma imagem igualmente “suja”, já que não parece aproveitar a riqueza das personagens – e o elenco por detrás das mesmas - e o poder da linguagem.
O carácter misterioso (por um lado), tão brutal que quase inacreditável (por outro), o facto de contar com um grande nome do cinema actual no cartaz de realização – Brian de Palma –, bem como o elenco de luxo que gaba exibir, faziam d’ “A Dália Negra” um filme a não perder, semeando e avolumando expectativas elevadas a seu respeito. Como deixo perceber anteriormente, considero que nos é apresentada uma (entre várias possíveis) versão da história sem que a narração tenha o poder de tocar e (muito menos) de transformar o espectador. Visualmente, confrontamo-nos com cenários escuros (congruentes com o contexto), coreografias sangrentas a passos lentos, aconchegados por uma banda sonora sinistra (presságio de dor e distúrbio) e com espaços que parecem ter a capacidade de transmitir odores e sensações de contorcer a cara e o corpo.
A película conta com a realização de Brian de Palma – como, aliás, foi já referido - e orgulha-se de apresentar Josh Hartnett (Bucky Bleichert), Scarlett Johansson (Kay Lake), Aaron Eckhart (Lee Blanchard), Hilary Swank (Madeleine Linscott) e Mia Kirshner (Elizabeth Short) no seu elenco. E, principalmente aqui, devo assinalar alguma (des)ilusão… Tratando-se de actores conceituados e, em alguns casos, galardoados, esperava poder provar da sua qualidade, versatilidade e profissionalismo. Todavia: Josh Hartnett mantém a compleição física (que tendencialmente parece agradar e bastar ao público americano) mas parece descorar a versatilidade, apresentando-se como um polícia “sensível e bonzinho” (que quase confundi com o seu desempenho em Pearl Harbour); Scarlett Johansson e Hilary Swank, inquestionavelmente belas, com percurso nesta arte de referência, apresentam “as suas mulheres” com fraca profundidade psicológica, sendo que, consequentemente, parecem mostrar apenas um fantasma do que poderiam ser e despojar-se do significado e impacto das suas personagens; de referir ainda, acerca da segunda citada, que esta se apresenta num registo diferente do que nos tem habituado nos seus últimos trabalhos – extremamente feminina, sedutora, elegante e atractiva, tendo sido esta uma das particularidades da obra mais “apregoadas” aquando da promoção da mesma em Veneza. Quanto a Aaron Eckhart, talvez por desconhecer outros trabalhos seus, considero-o uma surpresa feliz que, dentro dos limites e trâmites da película, parece ter transmitido emoção e consistência. Mia Kirshner… difícil comentário… talvez a expressão “a bela horrível” traduza o seu desempenho – avaliado, neste sentido, de forma positiva. No entanto, ainda a respeito da participação da actriz, sinto a necessidade de expor o que não passa de uma opinião pessoal: lamentavelmente, transparece uma certa negligência para com a personagem Betty Anne Short, que, não obstante de ser à volta desta que todas as outras histórias tomam lugar, não deixa de ser sugerida apenas como um pretexto para o resto da trama, e não mais do que isso. Posto isto, vemos a “Dália” ser relegada para segundo plano (quando deveria ser o foco da história) já que tem um espaço na narrativa que se quer menor.
O carácter misterioso (por um lado), tão brutal que quase inacreditável (por outro), o facto de contar com um grande nome do cinema actual no cartaz de realização – Brian de Palma –, bem como o elenco de luxo que gaba exibir, faziam d’ “A Dália Negra” um filme a não perder, semeando e avolumando expectativas elevadas a seu respeito. Como deixo perceber anteriormente, considero que nos é apresentada uma (entre várias possíveis) versão da história sem que a narração tenha o poder de tocar e (muito menos) de transformar o espectador. Visualmente, confrontamo-nos com cenários escuros (congruentes com o contexto), coreografias sangrentas a passos lentos, aconchegados por uma banda sonora sinistra (presságio de dor e distúrbio) e com espaços que parecem ter a capacidade de transmitir odores e sensações de contorcer a cara e o corpo.
A película conta com a realização de Brian de Palma – como, aliás, foi já referido - e orgulha-se de apresentar Josh Hartnett (Bucky Bleichert), Scarlett Johansson (Kay Lake), Aaron Eckhart (Lee Blanchard), Hilary Swank (Madeleine Linscott) e Mia Kirshner (Elizabeth Short) no seu elenco. E, principalmente aqui, devo assinalar alguma (des)ilusão… Tratando-se de actores conceituados e, em alguns casos, galardoados, esperava poder provar da sua qualidade, versatilidade e profissionalismo. Todavia: Josh Hartnett mantém a compleição física (que tendencialmente parece agradar e bastar ao público americano) mas parece descorar a versatilidade, apresentando-se como um polícia “sensível e bonzinho” (que quase confundi com o seu desempenho em Pearl Harbour); Scarlett Johansson e Hilary Swank, inquestionavelmente belas, com percurso nesta arte de referência, apresentam “as suas mulheres” com fraca profundidade psicológica, sendo que, consequentemente, parecem mostrar apenas um fantasma do que poderiam ser e despojar-se do significado e impacto das suas personagens; de referir ainda, acerca da segunda citada, que esta se apresenta num registo diferente do que nos tem habituado nos seus últimos trabalhos – extremamente feminina, sedutora, elegante e atractiva, tendo sido esta uma das particularidades da obra mais “apregoadas” aquando da promoção da mesma em Veneza. Quanto a Aaron Eckhart, talvez por desconhecer outros trabalhos seus, considero-o uma surpresa feliz que, dentro dos limites e trâmites da película, parece ter transmitido emoção e consistência. Mia Kirshner… difícil comentário… talvez a expressão “a bela horrível” traduza o seu desempenho – avaliado, neste sentido, de forma positiva. No entanto, ainda a respeito da participação da actriz, sinto a necessidade de expor o que não passa de uma opinião pessoal: lamentavelmente, transparece uma certa negligência para com a personagem Betty Anne Short, que, não obstante de ser à volta desta que todas as outras histórias tomam lugar, não deixa de ser sugerida apenas como um pretexto para o resto da trama, e não mais do que isso. Posto isto, vemos a “Dália” ser relegada para segundo plano (quando deveria ser o foco da história) já que tem um espaço na narrativa que se quer menor.
Por fim, oferecendo a ênfase merecida à análise de interacções entre as personagens acima citadas, estas constituem, a meu ver, o mais premente fracasso da obra, sendo que a decaláge entre a maturidade exigida pela complexidade das personagens e a, de facto, consumada pelos jovens actores questiona irremediavelmente a verosimilhança do argumento. O que acabo de expor é particularmente evidente na relação triangular (quadrangular? ou mais simplesmente múltipla?) entre as figuras centrais da trama – Lee, Bucky e Kay –, em que passamos – abrupta e frugalmente – de uma interdependência “saudável” e equilibradamente alimentada por valores como a cumplicidade característica do companheirismo, para uma paixão hollywoodesca e reprimida, pela falência de um dos vértices da relação.
Gostaria, ainda, de deixar uma palavra acerca da adaptação do argumento, no que diz respeito ao texto. Porque a arte é comummente considerada complexa e erudita, muitos são os que parecem negligenciar a simplicidade em favor do método, da técnica, do belo… do indecifrável e do incompreensível! Relativamente aos diálogos, fica a sensação de estarmos constantemente perante saltos ilícitos de raciocínio que se configuram num discurso lacunar e pouco apelativo – não só obrigando o espectador a esforços de compreensão, como também, e por esta mesma razão, não o prendem ao enredo.
Em jeito de conclusão, após ter lido diversos comentários com o mesmo intuito que este e ter analisado os diferentes “rótulos” que vão estando associados ao filme, poderia dizer que posso considerá-lo um policial – pela acção e conteúdo – mas nunca um drama – pela precária profundidade do argumento, pelos inexistentes espaços de reflexão estruturados e pela difícil capacidade de ser indiferente.
Gostaria, ainda, de deixar uma palavra acerca da adaptação do argumento, no que diz respeito ao texto. Porque a arte é comummente considerada complexa e erudita, muitos são os que parecem negligenciar a simplicidade em favor do método, da técnica, do belo… do indecifrável e do incompreensível! Relativamente aos diálogos, fica a sensação de estarmos constantemente perante saltos ilícitos de raciocínio que se configuram num discurso lacunar e pouco apelativo – não só obrigando o espectador a esforços de compreensão, como também, e por esta mesma razão, não o prendem ao enredo.
Em jeito de conclusão, após ter lido diversos comentários com o mesmo intuito que este e ter analisado os diferentes “rótulos” que vão estando associados ao filme, poderia dizer que posso considerá-lo um policial – pela acção e conteúdo – mas nunca um drama – pela precária profundidade do argumento, pelos inexistentes espaços de reflexão estruturados e pela difícil capacidade de ser indiferente.
6 Comments:
Olá.
Depois de ler o que escreveste sobre o filme, vou guardá-lo para as férias.
Beijinho
By esse, at 2:01 da tarde
Olá!
Bom... confesso que foi uma verdadeira desilusão. Vou gostar de saber a tua opinião!
Bom(s) filme(s)!
By Unknown, at 2:56 da tarde
Bem, devo confessar que a crítica ao filme está de "partir os quadris", quero com isto dizer, que perante tanta mínucia crítica, foi deixado pouco espaço para qualquer contra-argumento. No entanto, julgo que é uma crítica perfeitamente justa em quase toda a linha...
O filme pareceu-me, de facto, bastante confuso, no que concerne à própria cadência da narrativa que ao invés do que seria esperado pela antecipada craveira dos actores e actrizes, não nos deslumbra, mas antes nos inquieta : "Mas porque raio é que este filme não resultou?".
Na minha opinião, pode ser, em certa parte, compreendido pela incerteza e mistério que rodeia ainda hoje a história verídica em que se baseou o próprio filme... Mas antevejo que me possam dizer que exactamente por isso, o filme poderia ser mais congruente com própositos de criatividade no argumento, pois havia esse "espaço"... Bem, fica o mistério...
By Anónimo, at 1:18 da tarde
Caro Fantasma da O.R.D.E.M ;)
No que diz respeito às respostas que avanças para o facto do filme não ter resultado, compreendo o teu ponto de vista e vejo-me obrigada a concordar que o facto de narrar uma história verídica sem resolução até aos nossos dias poderá ter contribuído para a "confusão" que deixa transparecer. No entanto, reflicto se é plausível apresentar uma versão da história (que se pretende esclarecedora) mantendo tão acentuado este factor de complexidade...
Partilho da tua conclusão: "fica o mistério"!
(PS - Obrigada pela participação e pelo apoio!)
By Unknown, at 10:32 da manhã
Exactamente...algures entre o romance e a veracidade dos factos reais, este filme acabou, penso eu, por revelar talvez a incapacidade do realizador em ganhar o devido distanciamento em relação à "inundação" de informação que deverá ter sido encetada na investigação - antes da rodagem do filme - sobre a "Dália Negra" e as misteriosas circunstâncias da sua morte.
Julgo que assim se poderá, em parte, explicar o "fracasso" nessa tentativa de esclarecimento que falas, pelo que o desnorte do realizador poderá sublinhar o nosso, enquanto expectadores.
By Anónimo, at 6:18 da tarde
Apesar de concordar plenamente com o que ambos - Whisper e Fantasma da O.R.D.E.M. - dizem acerca de se tratar de um filme com um argumento algo confuso, devo apenas lembrar - principalmente em resposta ao último comentário do Fantasma da O.R.D.E.M. - que o mesmo, The Black Dahlia, não passa de uma adaptação de um romance já existente, de autoria de James Ellroy, como a Whisper sublinha no início do texto. Daí que o acho dificil o problema resida no tratamento da informação e da pesquisa, já que as hipoteses levantadas por esta "versão" do que terá acontecido à Dália, são directamente extraídas do imaginário do romancista e não do realizador, Brian de Palma, cujo trabalho, como a qualquer realizador que se proponha a fazer uma adaptação, residiu mais nos aspectos visuais e formais da película.
Não obstante, penso que, de facto, uma das interrogações que expões no comentário é bem ilustrativa das dúvidas que nos assaltam ao ver o filme: com um elenco tão bom e uma história tão rica, torna-se dificil "engolir" este fracasso...
By Aspirante, at 9:15 da tarde
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