Cinderella Man
O filme de Ron Howard que estreou as salas de cinema no ano de 2005 – Cinderella Man – parece só ter sido alvo da avaliação de madrastas e padrastos. Digo-o pelo pendor marcadamente negativo que se pode ler acerca da película – que se adivinha intimamente relacionado com a atitude do protagonista (Russel Crowe) fora dos ecrãs e que a reduz ao rótulo de cliché.
Passado no final da década de 20, o filme conta a história de James Braddock (Russell Crowe). Apresentado em pleno auge da sua carreira, o prestigiado e promissor boxeur, marido e pai exemplar, depara-se com dificuldades multideterminadas (de natureza social e desportiva) que culminam na progressiva degradação económica, pessoal e familiar. Vendo agravada uma lesão, em pleno crash da bolsa (1929), o pugilista vê fugir-lhe a sua sorte, continuando a lutar, desta feita, para alimentar e manter unida a sua família, vendo-se obrigado a trabalhar nas docas de Nova Iorque. Paralelamente às dificuldades oferecidas a esta família, assiste-se à precária condição social da nação, sendo que Braddock parece apresentar-se como uma a via do renascimento para ambos: a vitória de um homem, a esperança de um povo.
Tratando-se da narração de uma história de vida, aceito a opinião que defende a previsibilidade do argumento e a ausência de “fantásticas” surpresas. Contudo, a redescoberta de valores como a honestidade e a família, a reflexão em torno da educação, do sofrimento, do trabalho bem como a análise histórica que vai permitindo, com fidelidade, paralelamente à trama, far-me-iam tirar perante si o meu chapéu se o usasse, pelo que me limito ao que posso: a lisonjeá-lo e a transmitir a minha admiração a todos quantos quiserem ouvir. Não me considerando espectadora de lágrima fácil, frente a tamanhas dignidade, coragem, força e integridade, não posso deixar de sentir-me (e perdoem a linguagem tão corrente que simplória) pequenina!
Dando, finalmente, lugar a uma análise de cariz mais formal, salvaguarda-se a qualidade do desempenho de Russell Crowe – transmitindo eximiamente a emoção, sensibilidade e profundidade de um lutador (na vida e no desporto); contudo, o actor mantém o registo ao qual nos habituou, deixando apetecer alguma diversidade e versatilidade –, de Renée Zellweger – imagem da elegância e da simplicidade, da mulher e da mãe, da humildade e da coragem, numa performance incriticável – e de Paul Giamatti – condimentando a película com o humor que lhe é característico e que faz dele um dos melhores actores da actualidade no género. Notifica-se, ainda, o mérito da adaptação de uma história verídica para o grande ecrã, por parte dos argumentistas e do realizador Ron Howard. O trabalho por estes levado a cabo, traduzido nesta obra Cinderella Man, permite a todos nós (re)conhecer uma personalidade que nos enriquece pela sua humanidade e pela relevância do seu percurso.
Com o intuito de “aguçar o apetite”, deixo-vos este trailler.
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